Por mais que me convença de ter uma relação saudável, de amizade panteísta, com Deus, pesa sempre mais a herança da minha educação religiosa. É assim e não tenho outro remédio a não ser reconhecê-lo.
Sempre tentei compreender porque é que a minha mãe (o meu pai nem por isso...) me ensinou a ter a sua fé. Fê-lo sem más intenções, por tradição, por herança da minha avó, mas, sem se aperceber, carregou-me cedo com esse legado, esse lastro de pecado com que ninguém nasce. Melhor do que evitar pecar, como me dizia a sua igreja, é viver com ética, com uma conduta digna de ser homem sem temor a castigos divinos.
(Lembro-me do padre madeirense que me confessou com quinze anos e me perguntou se me masturbava. Pergunta idiota, de um representante formal de uma instituição, a um adolescente. A vergonha de então não me permitia conceber uma qualquer segunda intenção, se é que existiu...)
A verdade é que vivo cheio de dúvidas e a fé não mas esclarece, tal como um total cepticismo da minha parte tão pouco me responde ao que quer que seja. Porém, essa entidade divina, que tudo pode e que não conhece o aleatório, decretou que a minha infância não sai da criança que fui para o pai que agora sou.
Quero deixar-lhe uma ideia de Deus sua e não minha. Eles já terão as suas dúvidas e não precisarão dos meus medos, nem dessa expressão «olha que Deus castiga!». Isso, se Ele quiser, terminou em mim.
Educar, ciente da nossa finitude, não é incompatível com almejar algo mais fora desta realidade corpórea. Agarro-me a isso, é a única coisa concreta, ingénua talvez, que me parece manter pendurado e não cair no vazio.
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