domingo, março 13, 2022

Viver a dois é ser como um par de meias.

Viver a dois é ser como um par de meias. Há conforto mútuo, envelhece-se com o uso emparelhado, o roçar de pé com pé. Se fizer falta cose-se algum buraquinho por onde algum dedo espreitou. Mas resiste-se ao mau calçado, adapta-se à temperatura das estações e aprende-se a aceitar o chulé como consequência do esforço de caminhar ou da dignidade de manter-se de pé. O grande problema para uma gaveta harmoniosa é a falta de atenção, principalmente quando vai à máquina com a pressa da outra roupa. Pior que debotar é perderem-se uma da outra. Uma meia estraviada por desatenção é o melhor exemplo para uma relação amorosa pouco cuidada, quase nunca se recupera, leva a afastamentos desnecessários, pode levar a formar conjunto com meias parecidas, mas longe dos elásticos do par original, e, em última instância, é votada à inutilidade de ser singular, chegando mesmo à terrível solidão dos trapos. Quem cuida da sua gaveta das meias como deve de ser presta atenção a quem ama.

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