sábado, agosto 24, 2024

Viver na diagonal, mais do que cansar, chateia

O desnível tem sido uma constante na minha existência. Planos inclinados, descidas em pendente. Não menciono obstáculos, pois não me parece justo com o terreno e comigo mesmo. Avançar ou retroceder tem-se feito quando é necessário sem demasiado atrito. Porém, manter-me na vertical, conseguir descansar, e até mesmo trabalhar baldios assim, exige. O horizonte vê-se melhor se o olhar não necessitar erguer-se nem baixar-se. A facilidade em olhar apenas na horizontal reflete-se no viver. Talvez seja por isso que grande parte das minhas preocupações estejam relacionadas com esta minha necessidade de nivelar (atenção, nem por baixo, nem por cima), quero dizer, colocar calços e cunhas no que faço para procurar uma horizontalidade íntegra, sem sobrecarregar nenhuma das pontas. Estou farto de ver os meus libros a rebolarem por aí a baixo, cansado de ver a minha bicicleta cair do descanso, custa mais empurrar o carrinho das compras ou levar os sacos, mas o pior disso tudo é descansar-se na perpendicular, não ter o potencial conforto da cadeira nem a planicie em plenitude de uma mesa. Viver na diagonal, mais do que cansar, chateia. Antes o corpo era quem mais aguentava tanto desnível, a cabeça sempre acusou esta topografia existêncial, mas hoje já se encontram ao mesmo nível. Desgastados.

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