
No Sábado que passou assisti, fazendo parte da comissão organizadora, a uma demonstração do "jogo do pau" português. Uma arte marcial "tuga", dinâmica, eficaz, brutal, mas simplesmente digna de perpetuar na nossa cultura à semelhança do que se passa com as artes marciais orientais. Infelizmente parece estar condenado à extinção, no entanto, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não, como o Mestre Paulo e o Núcleo do Jogo do Pau da Moita que nos prendou com uma manifestação cultural da qual me orgulho e que gostava que fosse divulgada.
A adesão foi pouca, ao mesmo tempo Évora estava a receber os discípulos milionários de Scolari e o Jogo do Pau nunca há-de mover interesses milionários. Este é o país que temos... uma "vara no lombo" talvez não lhe fizesse mal...
Neste caso quem é mais patriota?
Um pouco de história...
"Em muitas sociedades a espada desenvolveu-se como uma arma à qual era atribuído um carácter sagrado, sendo o seu porte apanágio apenas da classe da nobreza guerreira. Ao povo era interdito ou dificultado o seu uso, pelo que este aperfeiçoava habitualmente sistemas de combate alternativos, de mãos nuas ou com recurso às ferramentas do dia-a-dia. Quem está familiarizado com a história do surgimento do karaté (que significa “mãos nuas” em japonês) em Okinawa sabe que se desenvolveu em paralelo o kobudo, que inclui técnicas de uso de foices, paus, matracas que eram usadas como malho, etc... Era com este arsenal que o camponês ou pescador podia defrontar quando necessário os orgulhosos ocupantes samurais, armados com catanas e outras armas de guerra. Também em Portugal o povo desenvolveu um sistema de combate usando como arma o cajado que acompanhava para todo o lado, até há poucos anos, os pastores e camponeses. Este sistema veio a ser conhecido pelo nome de Jogo do Pau, tendo aqui a palavra “jogo” não o sentido de “brincadeira”, mas o de “técnica” ou “manejo”.

Já bem dentro do século XX eram ainda frequentes por Portugal inteiro, mas com destaque para o norte do país, os combates de pau nas feiras e romarias. Por vezes envolviam estas rixas aldeias inteiras, outras vezes as lutas eram individuais, ou de um jogador contra vários. Era o tempo dos “puxadores” (nome que se dava aos jogadores do Norte) e dos “varredores de feiras” (jogadores afamados que se deslocavam às feiras e romarias para desafiarem outros, provando assim o seu valor através da vitória contra todos).



Em Lisboa, praticava-se já então, principalmente a partir do século XIX, um estilo próprio, desenvolvido nos quintais da capital e em clubes como o Ateneu Comercial de Lisboa e o Real Ginásio, que depois veio a ser o Ginásio Clube Português, nos quais ainda hoje se ensina esta arte. Surgem duas grandes Escolas, diferenciadas tecnicamente e com base em factores histórico-sociais: a Escola do Norte e a Escola de Lisboa (também praticada no Ribatejo e Estremadura). Esta última desenvolveu uma série de inovações técnicas e passou a dar menos importância ao combate contra vários adversários.
Ao longo da história do jogo do pau foram muitos os mestres que deixaram fama pelas diferentes regiões do país. Citemos alguns: Mestre António Nunes Caçador, Mestre Frederico Hopffer, Mestre Júlio Hopffer, Mestre Joaquim Baú, Mestres Calado Campos, pai e filho, Mestre Chula, Mestre Custódio Neves, Mestre Pedro Ferreira, Mestre Elias Gameiro, Mestre Nuno Russo, Mestre Manuel Monteiro, e um largo etc... O nome de Mestre Pedro Ferreira (n. 26 de Março de 1915 – f. 24 de Setembro de 1996) destaca-se pelo extraordinário desenvolvimento técnico que levou a cabo, combinando as Escolas do Norte e de Lisboa, de ambas profundo conhecedor. Foram seus discípulos muitos dos actuais mestres em actividade. Continuou a jogar o pau durante toda a sua vida, sendo considerado um dos mais exímios jogadores até ao seu falecimento. Era ele o Mestre do Ateneu Comercial de Lisboa, tendo nos últimos anos passado essa responsabilidade para o Mestre Manuel Monteiro, seu sucessor.

O Jogo do Pau começou um processo de organização a nível nacional com a fundação, em 1977, sob impulso de Mestre Pedro Ferreira, da Associação Portuguesa de Jogo do Pau. As várias escolas e clubes estão hoje organizadas numa estrutura representativa, a Federação Portuguesa de Jogo do Pau. Como testemunho da qualidade técnica deste sistema, é de mencionar que nos campeonatos abertos de lutas com pau comprido realizados em França na década de 80, com a presença de sistemas de combate do Japão, Vietname, França, e de outras nações, os jogadores do pau portugueses foram campeões absolutos, tendo ganhado todos os combates em que entraram." in Wikipédia.
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