quinta-feira, julho 12, 2007

"Calle Montera"

Não há nada mais fácil na vida que ser preconceituoso. Podem ter a certeza. Eu que me considero uma pessoa tolerante e aberta para conhecer os becos que o mundo esconde dei por mim numa atitude de preconceito que me envergonha e enoja. Era já tarde quando cheguei à "Gran Vía", tinha de entrar no hotel e guardar as coisas, uma vez que viajava na companhia da minha mãe e, quer queira, quer não, não é o mesmo quando viajamos com amigos, namorada ou sozinhos. A fome começava a apertar e as opções eram limitadas. Havia um antro de fast-food perto e essa era a solução visível... lá fomos e no topo da "calle montera" a noite tinha de começar a render. Dezenas de prostitutas, trabalhadoras aparcadas na rua, sindicalizadas no chulo que melhor as defenda... ou não, estavam na fila para comerem algo antes de voltarem a estar com outro cliente.
Algumas estavam tatuadas pelos ladrilhos da rua, outras já estavam marcadas pela tempo e à espera de se jubilarem e, muitas delas, estavam ali há muito pouco tempo e nem deveriam ter a escolaridade obrigatória. Todos os homens, de diferentes sensibilidades, não ficam indiferentes a tal montra de carne, confesso que algumas poderiam satisfazer a minha luxúria... mas nada mais (notem o pensamento reptiliano a sobrepôr a nossa herança genética mamífera!).
Estava eu na fila quando entram duas, cuja origem creio ser sul-americana, e me pediram para lhe guardar lugar pois tinham de ir lá fora, provavelmente dar conta da clientela. E penso eu: "estas pu..., vem-me aqui chatear, põem-se à minha frente, cara..., e ainda têm o descaramento de me pedir para lhe guardar o lugar. Fod..." Assim estive uns 10 minutos, uma vez que o restaurante estava à pinha. Chegou a sua vez e elas não estavam, óbvio que fui eu atendido, trouxe o meu farnel imperialista e juntei-me à minha mãe naquele manjar de presidentes de multinacionais capitalistas e gordurosas (mas a fome era tanta...).
Ao sair, olhei em volta, mas nada das minhas amigas. Respirei de alívio e continuei o meu destino...
Hoje, concluo que este episódio, tonto e sem importância aparente, comprova que continuo provinciano (no mau sentido) e preconceituoso. Não pensei nos motivos que estão por detrás de vidas de este tipo, julguei-as perante os meus valores e esqueci-me que sou o que sou pelas oportunidades que tive...
Nada é simplista e determinar origens e fins de mal-estar social é uma anedota que cada vez tem menos graça e que se torna mais seca neste mundo consumista...

1 comentário:

Puntos de vista y ... nada más disse...

Tens um prémio como Blogue que me faz pensar

Agora tens de nomear cinco blogues para o Thinking blogger award

Um abraço

http://javierfigueiredo.blogspot.com/