terça-feira, novembro 13, 2007

Aurea Mediocritas


Hoje, durante a tarde, após fazer as minhas tarefas domésticas (sabem como é a loiça, a roupa, aspirar os pêlos do gato, ouvir o "telediario"...), decidi ir correr pelos campos que circundam o local onde vivo.
A páginas tantas, já cansado, suado como o animal mais parecido ao homem, e com já alguns minutos em cima das minhas pernas, dou por mim a estirar os músculos junto a um burro a pastar e um par de bezerros que ainda mamam nas suas progenitoras... tal cenário não me é estranho, cresci com um pé na cidade e no campo, mas, por vezes, esqueço-me de valorizá-lo. Isto é, reconhecer que existe valor em muitas das coisas que nos rodeiam, mas que nem sempre temos discernimento para encontrar o seu devido.
Foi nesse momento único de paz que me recordei de um conceito que conheci quando comecei a dar os meus primeiros passos no mundo do estudo da literatura, o conceito de Aurea Mediocritas.
Esta designação latina, que podemos encontrar numa das Odes (II, 10, 5) de Horácio, expressa a ideia de que só é feliz e vive tranquilamente quem se contenta com pouco ou com aquilo que tem sem aspirar a mais. Para mim não é uma apologia contra a ambição (uma vez que a ambição, desde que não seja desmedida, é sempre algo positivo), mas algo que nos remete para o
carácter efémero da vida, do prazer, e de tudo o que pensamos ser imutável. Para mim, tudo se resume a constantes lições de humildade que te vão ajudando no dia-a-diana e te fazem pensar que é no aqui, no agora, que podemos desfrutar de tudo o que nos é prometido no paraíso das religiões... de momento creio que esta filosofia é extremamente vantajosa para que possamos alcançar aquilo que denominam de felicidade.

1 comentário:

Manuela Degerine disse...

Este conceito de "mediania sensata" ajuda-nos hoje a pensar a liberdade, a tomar posse do nosso tempo e espaço...