quarta-feira, março 27, 2013

Um almoço moralista na Cervejaria Trindade.

Esta 2ºfeira estive em Lisboa, com a Elsa e o Santiago. Coisas de burocracia, embaixadas, livros de família e passaportes. Após esse périplo (em que sempre te perdes, não porque não saibas as direcções, mas porque há sempre um sinal lisboeta que te faz enganar no trânsito) demos um passeio pela baixa chuvosa.
A capital não perde beleza, mesmo com obras sem fim e miséria envergonhada (mas que já não se esconde), e, por esse motivo, por estar em Lisboa, “menina e moça”, decidimos ir à cervejaria Trindade (luxo gastronómico de "menú turístico" assumido que há quase uma década não tinha) e almoçar um “bife à Trindade”. 

A companhia foi familiar, não a do meu amigo Sixto Galán e do José Kuski (como da primeira vez que lá estive), o sabor diferente. Quer pela confecção (o simpático empregado confessou-me que o molho era diferente), quer pelo sentimento de introspecção à saída da cervejaria. 
Sendo um homem consoladamente feliz, tendo família, saúde e trabalho, cada vez que saio à rua, ligo a rádio, televisão ou internet, sofro... Não posso ficar indiferente a quem não tem trabalho, saúde e não pode cuidar da família… 

E eu ainda posso almoçar, de dez em dez anos, na Trindade… Será que tenho de me sentir mal por isso? Impôs-se essa pergunta.
Não. É isso que querem que sinta, que sintamos. Recuso-me! Numa sociedade tendencialmente justa não se podem impôr perguntas deste tipo de moralismo pecaminoso e miserabilista. 
Há dignidade no bem servir e ser servido, no consumo com gratidão, há relações económicas baseadas no trato justo… e não apenas na facturação governamental feita através de programas informáticos que não sabem de contas humanas, tal como os que os programam. 
Ainda posso fazer algumas escolhas. Até quando? Não sei.
O dia que não as possamos fazer, só nos resta agarrar na espingarda, carregá-la, apontar, correr a mão e disparar. Passos limpos levar-nos-ão ao coelho que nos matará a fome. 
Pelo menos não teremos “miserabilismo” de espírito que se nos quer impôr. Mataremos para comer. Se é o que querem... Cada vez há mais pessoas dispostas a isso. E isso não causa peso na consciência a quem nos governa?



1 comentário:

o passageiro disse...

Comentário retardado:"Pois boa ideia, poderiamos la voltar os três, em 2023, com as famílias claro.