Marcos Ana, preso político, durante 23 anos, do
franquismo. Morre o corpo ao homem mas prevalece o poeta de resistência...
Digam-me como é uma árvore
contem-me o canto de um rio
quando se cobre de pássaros,
falem-me do mar,
falem-me do cheiro aberto do campo
das estrelas, do ar.
Recitem-me um horizonte sem fechadura
e sem chave como o choço de um pobre,
digam-me como é o beijo de uma mulher,
deem-me o nome do amor
não o recordo.
As noites ainda se perfumam de apaixonados
nervosismos de paixão à lua
ou só resta esta fossa,
a luz de uma fechadura
e a canção da minha rosa?
22 anos, já esqueci
a dimensão das coisas,
o seu cheiro, o seu aroma,
escrevo às escuras o mar,
o campo, o bosque, digo bosque
e perdi a geometria da árvore.
Falo por falar assuntos
que os anos me esqueceram.
Não posso continuar:
oiço os passos do funcionário.
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