Baixaram as temperaturas. Parte do mundo mediático está abaixo de zero. Aqui também se nota, mas não chega a tanto. Mantas e o aquecedor a óleo são suficientes para amornar o ambiente cá de casa.
Amanheceu o Dia de Reis e, ainda na nossa cama, os nossos filhos receberam os presentes correspondentes, escondidos durante a semana das festas dentro do armário. Têm a sorte de viverem duas tradições natalícias, o Menino Jesus português (para eles Pai Natal, não há volta a dar) e os Reis Magos espanhóis. Pensar-se-ia que teriam presentes a dobrar, e têm bastantes não lhes falta de nada, porém tenho orgulho de os ver crescer sem excesso de brinquedos, ao contrário de como vejo tantas outras crianças, entreterem-se com jogos de construções, livros, carrinhos e alguma bonecada de acção.
Adoro fazer legos com eles e, admito, ser esse o único brinquedo que vou deixando entrar com frequência cá em casa, principalmente, através das revistas com pequenas peças de colecionador. Já em puto, passava horas a construir aventuras de lego e hoje em dia emociona-me ver a destreza com que ambos já fazem as suas construções. Tento não impôr demasiado a minha vontade à sua forma de brincar, mas é mais fácil eu gastar dois ou três euros num lego do que deixá-lo jogar na tablet dois ou três dias seguidos. O potencial criativo dum lego jamais se comparará a um jogo de tablet ou de consola nesta etapa das suas vidas e, para azar dos meus filhos, eu sou mais fã do ar livre, da bicicleta, das ferramentas, das fisgas, da lupa e do frasco para os bichos, das construções e de outra bonecada que lhes permite brincar na primeira e na terceira pessoa.
Tudo isto para dizer que foi um dia de Reis com peças de lego na mesa da sala, um mini-robot solar construído pelo Santi, um livro da «Ilha do Tesouro», o Han Solo e um Tauntaun abebezado da Playschool, junto com uma luva de basebol, para o Xavi. São uns felizardos, pois nós, mesmo comprando em saldos e tentando manter uma atitude de consumo responsável, podemos dar-lhes estes bens materiais, estas "brincas" como me diziam quando eu era puto. Muitas crianças não têm a mesma sorte que eles e nós gostamos, melhor, fazemos questão de lho recordar.
O meu presente de Reis foi este dia frio e solarengo. Foi vê-los felizes a desfrutarem intensamente das suas prendas e da nossa companhia. Foi cantar-lhes as Janeiras, foi lembrar-lhes o «Natal dos Simples» em plena azáfama de «Cavalgatas» a metralharem a criançada com rebuçados cheios de boas intenções, mas repletos de açúcares processados. Foi o dia que já passou, mas que nos parece que ficou construído, com encaixe de lego e algumas peças atrevidas, falsificadas, nas nossas memórias.
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