Ver filmes três ou quatro vezes é algo que herdei duma juventude de videoclube e de tardes tórridas de Verão em que abusava da performance do meu leitor de VHS. Ainda hoje sucumbo à tentação de rever os filmes agradáveis à minha óptica e à disponibilidade do meu tempo.
Pela sétima, ou oitava vez, talvez, revi o genial «Forrest Gump». Cada vez que o voltei o ver, algum pormenor, alguma piada, o cuidado com a banda sonora proporcional ao rigor histórico da película, alguma coisa sempre me despertou atenção e me fez ficar em frente do ecrã.
Devo confessar também que já, várias vezes, me apeteceu fazer como esta personagem, interpretada pelo Tom Hanks, e desatar por aí a correr até o parar coincidir com o apetecer. Duas coisas mo impedem. Primeiro, o realismo de não ser um Forrest Gump e, segundo, a minha assumida cobardia de pai de família e trabalhador de diversos sectores. Até mesmo o Forrest Gump só se pôs à estrada quando não tinha ninguém para cuidar. O que seria desta figura icónica do cinema sem a sua "mamma", a sua Jenny, o seu amilhaço Bubba, o seu Tenente Dan e, por fim, o seu pequeno Forrest?
"Run, Forrest, run!" não é coisa de estúpidos, nem de cobardes, porque, e citando de novo este nativo de Greenbow, Alabama, "um estúpido é aquele que faz coisas estúpidas".
Contudo, e tenho esta tendência a dispersar-me do que me faz escrever ao fim do dia, apesar do final de serão na televisão pública me ter repetido este já considerado clássico da sétima arte, deito-me a pensar como na época em que estreou o filme, na década de 90, era para a maioria das pessoas o conceito de seguidor. Sem dúvida, tratava-se sempre de algo assustador ou de devoção extrema. Era até caso para se ter cuidado pois nunca se sabiam quais as intenções de quem nos seguia. Hoje em dia, seguidores e seguidos é coisa de rede social. Com excepção de alguns "trolls" ou perfis tóxicos, não tem nada de mais, é uma forma de comunicar e não nos remete para nenhum filme de terror.
A estrela de futebol americano universitário, o herói da guerra do Vietnam, o campeão de ping-pong, o proprietário da cadeia de venda de camarão "Bubba-Gump" e accionista da Apple é um bom exemplo de como, muitas vezes, não sabemos quem verdadeiramente seguimos, quais os seus motivos, o que não invalida a inspiração que daí pode advir e ter até um possível efeito de contágio.
No caso do Sr. Gump, que percorreu os Estados Unidos de lés-a-lés, montado apenas nos seus ténis da Nike, os seguidores fictícios acabaram por ser muitos e a inspiração originou slogans como "shit happens" e essa cara de felicidade de "smiley" em t-shirts, cujo "upgrade" prolifera em milhares de "emoticons" por esse mundo informático fora. Como se vê no filme, a sua iniciativa não trouxe nenhum mal ao mundo, por mais despropositada que pareça para quem, como eu, de vez em quando, analisa o mundo desde o seu sofá.
Impossibilitado de me pôr à estrada atrás do seu exemplo, fico-me com a sua não-filosofia, bem presente na resposta dada aos jornalistas ao perguntarem-lhe porque razão corria.
- For no particular reason... (Por nenhum motivo em especial...)
Donald Trump apenas tem algo em comum com esta personagem, a nacionalidade norte-americana. Muitos pensarão que iria mencionar a estupidez. Não, pois "um estúpido é aquele que faz coisas estúpidas" e o Sr. Forrest Gump nunca fez nada estúpido. Já do Sr. Donald... não se pode dizer o mesmo.
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