Sempre me tocava com o indicador no peito e me dizia ali era um sítio especial. Sentia umas ligeiras cócegas a acabarem num abraço e num beijo que foi ficando cada vez mais alto.
Quando me lembro de tudo o que nos quis ensinar, sobressai o tanto que gostava de estar comigo, de, como dizia, passar tempo connosco.
Um dia, quando na televisão passava um filme da Segunda Guerra Mundial em que se queimavam livros, disse-me que não eram os livros que estavam a arder, sim a liberdade. Usou o indicador e apontou para outro sítio com tristeza.
Não apontava por apontar. Se o fazia era como nos dizia, para nos lembrar a beleza assinalada e não para acusar. Preocupava-se com a brutalidade dos tempos e foi tão imperfeito quanto os dias que viveu. Mas o seu dedo continua a apontar para esse sítio especial e faz cócegas à ausência, como um membro amputado que já não existe e ainda se vai sentido.
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