quarta-feira, dezembro 02, 2020

1 de Dezembro de 2020

Hoje falei com os meus alunos mais velhos sobre 1580, sobre a crise de sucessão e sobre a prudência de Filipe II de Espanha, que acabou por unir as duas coroas (e assim chegar aos quatro cantos do mundo), com alguma aceitação por parte das classes dominantes portuguesas, devido a ser um monarca que sabia honrar os seus compromissos. Isto é, a sua inteligência e a sua visão estratégica não se resumiam aos curtos horizontes de Castela. Filipe II elevou Hespanha a império e fê-lo deixando os portugueses serem uma nação, uma cultura e, o mais determinante de tudo, serem e deterem a sua economia. Portanto, essas coisas de independência e arraigo à bandeira nacional depende mais de moedas do que de amores pátrios.
O legado de Filipe II ficou por essa lição de história aclamada por Portugal num reinado e renegada pouco depois por uma descendência do monarca incapaz de manter qualquer unidade peninsular, quanto mais de um império com a extensão das Descobertas portuguesas e espanholas do século XVI, e o terceiro da Dinastia Filipina, porém quarto de Espanha, viu como num primeiro de Dezembro de 1640 Portugal se sublevava de uma Espanha em guerra com meio mundo, a esbanjar os recursos do Brasil e da Índia e, ainda por cima, a sobrecarregar o Zé Povinho, melhor o Manuelinho, esse louco da minha terra, com impostos. 
Por momentos, os meus alunos, alheios à fronteira mais antiga da Europa, sem qualquer tipo de preconceito nacionalista, nem a lembrarem-se de polémicas catalãs, bascas ou de anedotas galegas, anteviram um hipotético legado de união peninsular e aprenderam porque se utiliza substrato para além das plantas. Não lhes falei de Oliveira Martins, nem aprofundámos mais a questão, mas naquela sala de aula entendeu-se algo da história da civilização ibérica e o génio peninsular que nos une e é apanágio de portugueses, castelhanos, bascos, galegos e catalães...
Sumário: saí da aula, satisfeito por aqueles jovens honrarem a nossa "intrahistoria" com o seu interesse em saberem o porquê da efeméride do primeiro de Dezembro, e recebo a notícia do falecimento de Eduardo Lourenço. Pensei na sua longevidade, 97 anos de sabedoria, no seu génio peninsular com berço na Guarda e senti que, de alguma maneira, após tanto a renegar, já me vou adentrando no meu próprio labirinto da saudade.  

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