O legado de Filipe II ficou por essa lição de história aclamada por Portugal num reinado e renegada pouco depois por uma descendência do monarca incapaz de manter qualquer unidade peninsular, quanto mais de um império com a extensão das Descobertas portuguesas e espanholas do século XVI, e o terceiro da Dinastia Filipina, porém quarto de Espanha, viu como num primeiro de Dezembro de 1640 Portugal se sublevava de uma Espanha em guerra com meio mundo, a esbanjar os recursos do Brasil e da Índia e, ainda por cima, a sobrecarregar o Zé Povinho, melhor o Manuelinho, esse louco da minha terra, com impostos.
Por momentos, os meus alunos, alheios à fronteira mais antiga da Europa, sem qualquer tipo de preconceito nacionalista, nem a lembrarem-se de polémicas catalãs, bascas ou de anedotas galegas, anteviram um hipotético legado de união peninsular e aprenderam porque se utiliza substrato para além das plantas. Não lhes falei de Oliveira Martins, nem aprofundámos mais a questão, mas naquela sala de aula entendeu-se algo da história da civilização ibérica e o génio peninsular que nos une e é apanágio de portugueses, castelhanos, bascos, galegos e catalães...
Sumário: saí da aula, satisfeito por aqueles jovens honrarem a nossa "intrahistoria" com o seu interesse em saberem o porquê da efeméride do primeiro de Dezembro, e recebo a notícia do falecimento de Eduardo Lourenço. Pensei na sua longevidade, 97 anos de sabedoria, no seu génio peninsular com berço na Guarda e senti que, de alguma maneira, após tanto a renegar, já me vou adentrando no meu próprio labirinto da saudade.
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