quinta-feira, setembro 25, 2008

Late night posts... Velha Infância...

Tive vários mestres ao longo da minha vida. Ainda tenho e acredito que sempre terei, até que a minha aventura por este fascinante, e por vezes aterrador, mundo termine. Quase todos me marcaram, me ajudaram a crescer, a imitar o seu legado ou, simplesmente, a ignorá-lo. Quem disse que aqueles com os quais não nos identificamos não nos podem ensinar bastante? Creio que foi com esses que mais aprendi, principalmente a dizer uma das palavras mais difíceis na vida de um ser humano: não.

Mas não é sobre esse tipo de mestria que hoje aqui escrevo (quem sabe errado em linhas certas e formatadas informaticamente). Creio que cedo despertei para um dos meus principais prazeres, diria mesmo para uma dos meus vícios, a leitura. Era bastante criança quando, no pátio da minha infância, onde os tremoçais eram selvas imaginárias, cenário de batalhas militares (épicas mesmo, pelo menos no meu imaginário) infantis que me deram uma certa noção de bem, mal e, principalmente, de camaradagem (gosto mesmo desta palavra!), conheci o meu mais “pequeno” mestre. O “vizinho João”.

Vizinho porquê? Este termo já parece da idade média, pois na terra onde nasci é comum tratar as pessoas que vivem cerca de nós por vizinhos, algo que tende a desaparecer mas denotava muito respeito e afecto, pois de quem não se gosta nunca tem este título, quase à maneira do “sir” inglês, de “vizinho”.

João era vizinho da minha avó e, apesar de não viver aí, apropriei-me da sua vizinhança. Embora a nossa tenra idade, eu com menos de uma dezena e o meu irmão de sempre, o Rui, apenas cruzara essa fasquia há pouco tempo, fosse bem evidente, desfrutávamos bastante da companhia deste amigo, para quem o seu nanismo era inversamente proporcional à sua personalidade e bondade. Foram eternos os serões em que, apesar de nada saber desse “grande livro” que é o mundo, o “Vizinho João” nos educava para temas tão diversos que iam desde a história universal até ao eterno sofrimento benfiquista (curiosamente não havia nada de ordinarices e palavrões que sempre foram uma constante na minha vida). Sempre de igual para igual, com um respeito e maturidade que nenhum de nós tinha, mas, hoje, regressando a essas horas, a esses minutos, na sua companhia, não parece real… éramos demasiado novos. Como pudemos falar sobre tais temas? Eram serões de conversas e debates sobre um mundo que nem na escola sonhava que existia…

Para estas perguntas não existem respostas. Sinceramente a nossa infância não precisa de respostas, foi uma boa infância e o que é certo é que ambos, eu e o meu “mano” (o meu verdadeiro irmão, cujo código genético, apesar de diferente, será eternamente irmão), vivemos esses serões sentados num lancil de passeio humilde, num operário bairro, de um Alentejo que viverá em nós até ao derradeiro dia.

Não sei porque me recordei deste homem. Apenas estava aqui sentado e queria escrever… e ao escrever voltei a casa… voltei.

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