Ia publicar um outro poema de Alexandre O'Neill intitulado Guiché/2, mas procurando-o no livro, dei com este, e ciente do amor que muita da gente que lê este blogue sente pelas bicicletas...
ELOGIO BARROCO DA BICICLETA
Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais – eu que era um teórico
do ar livre – e revendo o passarame à obra.
Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me etangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.
Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,
dá-me as asas – trrim! trrim! – pra que eu possa traçar
no quotidiano asfalto um oito exemplar!
Alexandre O'Neill
Do seu livro A saca de orelhas (1979)
1 comentário:
Lindíssimo! E eu que cheguei agora mesmo do Encontro Nacional de Bicicletas Antigas! Nada mais adequado!
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