quinta-feira, julho 22, 2010

“Televisión Total”


A imagem frenética que o apresentador João Baião nos deixou de tempos em que era a figura principal de um tal “Big Show Sic” ainda me estranha quando o vejo ao leme de um programa de entretenimento da televisão pública, mas é com agrado que constato que as relações transfronteiriças até já têm destaque no entretenimento da RTP, como foi o caso do programa “Verão Total”, emitido, no passado dia 20, em directo da cidade capital da região autónoma da Extremadura, Mérida.

Assistir a esta emissão desde a antiga capital da Lusitânia, fez-me reflectir sobre a vários aspectos comuns que temos de um lado e outro do Guadiana.

Curiosamente, tanto o Alentejo, como a Extremadura espanhola, são duas das maiores regiões, em termos territoriais, dos respectivos países e sem grande expressão nível populacional. Este último fator vota ambas regiões a um estatuto de interioridade atestado pelos fechos sucessivos de várias instituições com destaque para escolas e centros de saúde. Estas medidas são tomadas tendo em conta factores economicistas que têm afastado população do Alentejo e da Extremadura para outras áreas urbanas, tal como para fora de Portugal e Espanha.

Por outro lado, também de um ponto de vista economicista, é entre estas duas regiões, quase sem expressão a nível de deputados nas respectivas assembleias nacionais, que encontramos o único fenómeno de “eurocidade” que Portugal pode mencionar a nível internacional. Refiro-me a um espaço económico, social (e até quase físico) que partilham as cidades de Elvas e Badajoz. Este conceito está muito em voga, e já podemos encontrar a presença desta “eurocidade” na internet, com especial destaque para o Facebook.

Inevitavelmente, o nosso país apenas tem o Atlântico e a sua vizinha Espanha, daí que o melhor é o pragmatismo e que desfrutemos do melhor que daí pode advir. Tal não é sinónimo de perda de soberania, nem submissões políticas, ao invés (e a nossa situação geográfica bem o justifica), cooperação que nos permita progredir e dinamizar estas duas regiões vizinhas. Foi disso um claro exemplo a presença do vice-presidente da CME em Mérida e o interesse do Alcaide emeritense em participar e alojar a equipa de João Baião na “Plaza Mayor” da capital extremenha.

É em épocas de crise que descobrimos novos rumos e investimos no que outrora passou desapercebido, e, neste aspecto, o Alentejo, apesar de não ter uma estrutura política autónoma como a vizinha Extremadura, pode aprender com alguns bons exemplos, neste caso ao nível dos media. Refiro-me ao Canal Extremadura TV e Rádio, que como serviço público local promovem e ajudam a dinamizar a região.

Nada mais pertinente numa época em que o líder do PSD discute a privatização da RTP, daí que talvez seja interessante reflectir sobre o que é o serviço público de informação, para que serve e como poderá, e deverá, ser isento.

Pessoalmente, caso a situação económica o permitisse (quer a nível público ou privado), a existência de um canal de difusão em sinal aberto de televisão e, mesmo, rádio, isto é, uma espécie de “Alentejo TV”, seria uma mais-valia para a região e acredito que tivesse viabilidade económica e audiências que a justificassem, se é que isso deverá ser determinante num serviço deste tipo. Não nos esqueçamos que com o advento da internet a televisão a que estávamos habituados já não é a mesma, sendo os seus conteúdos fundamentais, a dita televisão “a la carte”.

No entanto, este não é um tema novo e não tem pretensões regionalistas (para isso já temos a tentativa de criação de um partido político no norte de Portugal e a protagonismo mediático do ex-presidente do F.C. Barcelona, Joan Laporta, para a criação de uma nação Catalã), daí que, sempre que posso, assisto às emissões do Canal Extremadura e tento saber um pouco mais do que se passa aqui ao lado. O que é irónico é que, na sua grelha de programação diária, também fico a par do que se passa em Portugal, com destaque, para o que se passa ao lado, no vizinho Alentejo.



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