terça-feira, setembro 28, 2010

"Abre los Ojos" para "Vanilla Sky"



É rara a adaptação, cover ou “remake” que supera o original, e no que diz respeito ao cinema norte-americano ainda pior. Poder-se-ia fazer uma lista de adaptações e “remakes” falhados, alguns até com bons realizadores por trás, como é o caso de Cameron Crowe.
Há quase uma década, em 2001, que foi lançado “Vanilla Sky”, adaptado do original de Alejandro Aménebar “Abre los Ojos”, desta feito com um desfigurado Cruise e não o espanhol, talentosíssimo, Eduardo Noriega (dado a conhecer em “Tesis” do mesmo relaizador).
Recordo-me perfeitamente de ter visto ambos os filmes na mesma época, creio que a versão de Crowe primeiro, e de ter ficado com a impressão de que Hollywood se apropria de ideias brilhantes e, simplesmente, num afã de lucro lhe tira todo o brilho. Claro que na época não tinha o mínimo distanciamento, e discernimento, temporal que hoje nos permite uma análise mais clara e menos preconceituosa.
Esse preconceito, fez-me esquecer que Crowe não é o típico realizador de “blockbusters” e que tem uma qualidade que sempre apreciei no cinema (talvez a tenha apreciado pela primeira vez pela mão de Tarantino, sem me aperceber que fora antes ainda, sob a batuta de Sérgio Leone), a escolha acertada da banda sonora.
Escolher uma canção para sonorizar uma imagem vai para além dos acordes, dá-lhe cor, confere-lhe ritmo e identidade, por vezes torna-a cúmplice de quem a vê. Para mim, a imagem e o som certo conjugam-se harmoniosamente numa gramática e sintaxe de histórias com as quais mergulhamos no verdadeiro entretenimento… pensar por prazer, quando tantas vezes não nos apetece.
O “zapping” tem, inerente a si, o acaso e, este fim-de-semana, deparei-me, quase dez anos depois, com um “Vanilla Sky” que me agradou, que me fez pensar em sequências e consequências da sétima arte. Também me reportou para Dylan, REM e Sigür Rós que acompanharam uma certa época que vivi…
Em suma, despertou-me para uma estética, que lhe confere cor e título, que passou despercebida pela sombra da ideia de Aménebar e que, hoje, volvidos estes anos, me faz pensar que dotar histórias já contadas de “roupa nova” nem sempre é mau…  se tenho meios para melhorar uma narrativa porque não usá-los? Em outros âmbitos esta questão nem sequer se põe, mas no cinema americano a intelectualidade nunca deixa passar isso em claro… Será por isso que Kubrick nunca ganhou nenhum Óscar?

1 comentário:

MAR disse...

Tem graça falares nisso porque tenho apenas um filme de Crowe na minha dvdteca mas várias bandas sonoras de filmes dele. Quanto a Amenábar, tenho o Tesis em atraso até porque nestas férias conheci um hermano mo recomendou muito.