Caríssimos amigos,
Quanto tempo já lá vai? Três anos? Caramba, o tempo passa a
correr, parece que foi ontem que aí estávamos juntos e Valencia de Alcántara
era paisagem comum a todos nós.
Não sei se estão de acordo comigo, mas a nossa perceção do
tempo é assim, rápida, quase alucinante, um reflexo do mundo em que vivemos, da
tecnologia que usamos nos bolsos, da rapidez com que nos frustramos se não
somos capazes de acompanhar um ritmo que, quem sabe, até não é o nosso, mas
algo imposto.
Apesar de ser um número curto, três (veloz, tipo de início de
uma corrida “um, dois, três!”), se juntamos a este número o substantivo ano
falamos de 365 dias a multiplicar por três, o que resulta em 1095 dias (dependendo
se é bissexto ou não) e, vejam só o cúmulo do detalhe, 26 280 horas. Nem
me atrevo a contar os minutos mas é óbvio que são muitíssimos!
Parece-me que tudo depende de como vejamos as coisas, mas,
quase sempre, como dizia o T.S. Eliot, “a vida é longa”. Tudo depende da
unidade de tempo, convencional ou não, com que a meçamos. Mais do que a medida
dos segundos, horas, dias, anos, décadas, etc., gosto daquela medida
quantificável para além do mostrador do relógio que aprecio como tempo de
qualidade.
Não faço ideia quanto tempo estive convosco a exercer o papel
do profissional que ensina verbos regulares e irregulares, pronomes reflexos,
vocabulário e outras coisas relacionadas com a língua portuguesa, mas acho que,
também, foram três anos cronológicos numa medida infinita de tempo de qualidade.
Ao receber o convite, para poder partilhar convosco um dia
tão importante como o da vossa “graduação” académica, fiquei emocionado. Apesar
de todos os alunos com que um professor se cruza serem parte do docente que é,
não estava à espera. É com pesar que não estarei aí convosco e não vos
aplaudirei “in loco” com esperança no futuro.
Fá-lo-ei aqui, de forma mais íntima, imerso num momento em
que me sinto um pouco cansado, mas acompanhado pela vossa estima em ser digno
da vossa recordação. Quero acreditar que não é porque ensino muito bem uma
coisa que se pode decorar, como os verbos irregulares, mas sim, porque durante
esses três anos que partilhámos houve uma coisa transversal ao ser humano, o
respeito pela sua condição.
Não faço a mínima ideia do que vos espera o futuro. O mais
comum nestes momentos é dizerem-se coisas “supermotivadoras” para que vocês
sejam produtivos e se insiram bem na sociedade. Desculpem-me mas não sou capaz
de vos dizer isso. A vida será o que sempre é: incontrolável. A única coisa que
se pode controlar, e que nos une tanto à vida, é a atitude com que tentamos
viver desde dentro e, talvez, cative qualquer coisa, ou alguém, fora de nós.
A mim, amigos, só me cabe agradecer-vos por se terem lembrado
de mim, talvez num momento em que ando um pouco esquecido do que aprendi com o
meu “Principezinho”, que todos somos príncipes mas “dignos das nossas
circunstâncias”, e com o “Principezinho” do Saint-Exupéry, “que o essencial é
invisível aos olhos”.
Vosso (Sempre)
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