Vida mansa não tem pressa. Aracati, Ceará, fotografia de Eleonora P (Lelé).
2020 foi prolífico em publicações, principalmente diários e crónicas nas redes sociais, no entanto, o meu confinamento não foi propício para o exercício da escrita. Recatei-me na leitura, no estudo, só rabiscando notas soltas, rotineiras, vácuas como o silêncio a fazer-me falta. E, pela primeira vez, senti que envelheci. Talvez porque me tornei “quarentão em quarentena”, num país onde só podia esticar as pernas no supermercado... Já desconfinado, a última “Mais Alentejo” albergou uma “Nota que não chegou a diário” e que resume este meu ano, finalmente, a acabar.
Este ano deixou mossa em muitos sectores da nossa sociedade, a imprensa escrita é um deles, portanto, se puder, em 2021, continue a apoiar, nas bancas, projetos jornalísticos como o da equipa da “Mais Alentejo”. Eu vou tentar. Votos de um bom ano novo!
2020 fue prolífico en publicaciones, principalmente diarios y crónicas en las redes sociales, sin embargo, mi confinamiento no fue propicio al ejercicio de la escritura. Me recaté en la lectura, en el estudio, solo garabateando notas sueltas, rutinarias, vacuas como el silencio que me hacía falta. Y, por la primera vez, sentí que envejecí. Tal vez porque me hice “cuarentón en cuarentena”, en un país donde únicamente podía estirar las piernas en el supermercado... Ya desconfinado, la última “Mais Alentejo” albergó una “Nota que no llegó a diario” y que resume este año mío, finalmente, terminando.
Este año dejó marcas en muchos sectores de nuestra sociedad, la prensa escrita es uno de ellos, por lo tanto, si es posible, en 2021, siga apoyando, en los kioscos, proyectos periodísticos como el del equipo de la “Mais Alentejo”. Yo lo voy a intentar. ¡Feliz año nuevo!
O que é que o Nero, o Pantufa, o Júnior, o Jacó e o Rocky têm em comum para além de terem sido os cães da minha família? A resposta é fácil: eram rafeiros. Isto é, segundo o dicionário, cães sem “raça definida, resultado do cruzamento de diversas raças” ou, se enveredarmos pelo uso coloquial e pejorativo, algo “que não presta, de má qualidade, com mau aspecto” ou, simplesmente, “vadio”.
A canzoada só não tinha raça definida, pois, cada um à sua maneira, especialmente o Júnior (o incondicional amigo que o Ti Luís, o pai da nossa Sara Rodi, me deu), eram animais dignos, nobres, belos e cheios de humor. Como o Jacó, um Joe Pesci coelheiro de orelhas pontiagudas, mafioso de quatro patas que, depois de um périplo de meses, retornou a casa só para nos esfregar no focinho que jamais lhe domaríamos a Camorra que levava no sangue.
Tive a sorte, desde puto, da amizade canina, porém, a vida afastou, quase duas décadas, a sua presença na minha casa. Senti a saudade do passeio pelo campo, da cabeça nas pernas a pedir festas, da alegria do rabo a abanar ao ver-me, dos sprints atrás da bola ou das divagações do faro à procura de gatos, lebres ou comida no lixo. Na memória, ficou o cheiro a cão, a baba nas calças e esse domingo de convívio do grupo de casais ao qual os meus pais pertenciam na nossa paróquia.
Passei a maior parte do tempo a brincar com um cachorrinho gordo, peludo, uma espécie peluche vivo, sempre atrás dos meus Nike de ir à missa. Lembro-me de perguntar ao dono, um jovem latifundiário, qual era a raça do bichano.
- É um rafeiro alentejano. Queres ver os pais dele?
Já sabia o que era um rafeiro, mas aquele cachorro era como eu, alentejano e sem quaisquer virtudes de berço, além da teimosia atrás dos atacadores e da franqueza da paisagem. O canil era enorme, apesar da corpulência daqueles dois animais, sóbrios e de expressão calma. O macho, maior do que a fêmea, pareceu-me mais cabeçudo. Vieram de imediato ter com o dono que lhes afagou o pêlo grosso e me pôs à vontade para os acariciar, eles não me fariam mal. Um rafeiro alentejano é dócil e cúmplice da criançada. Excelente cão de guarda, seguro e confiante, vigilante nas horas de escuridão, não hesita em usar corajosamente as suas presas robustas para defender os seus de qualquer tipo de intruso.
- Andam soltos à noite pelo monte, à mínima dão logo sinal. Ele tem quatro anos e ela é pouco mais velha. O canito com que andas na brincadeira está à mama sozinho, é um belo bicho! Um amigo meu vem buscá-lo para a semana...
Creio que foi o meu olhar fascinado, ou talvez o lavrador tenha intuído a heráldica do meu apelido, mas as suas palavras tornaram-se um sonho que recordo com sorriso gaiato.
- Se quiseres, para a próxima ninhada, guardo-te um.
O meu pai, ali por perto, assentiu.
Durante meses perguntei se havia notícias do simpático senhor do monte. Soube, anos depois, que lamentavelmente nos deixou antes de tempo. E o meu rafeiro alentejano foi crescendo longe de mim. Acredito que os seus antepassados molossos o impelissem a buscar outros rebanhos por esta Península Ibérica fora. Eu fiz o mesmo.
Quem nasce rafeiro, e alentejano, não escapa ao seu carácter, à planura do seu espírito. E, há um ano, quando a minha alma se amedrontava perante um lobo negro, tão cobarde quanto a sua alcateia dissimulada, regressou ao meu território o rafeiro que me foi oferecido, retomando o seu lugar na família.
O Donnie, o nosso rafeiro alentejano, esse cachorro abandonado aos sete meses, de pelagem lobeira, com o seu peito largo e profundo, pôs-se ao meu lado, recuperando a força da minha vasta planície, profunda em silêncio e teimosa como o sol a romper por entre farrapos de nuvens.
Vive livre pela raia e escolheu ser leal aos meus. Territorial, zela pela tranquilidade do nosso monte. Este cão, que o bom terratenente me guardou, foi duma ninhada tardia. Tem o pedigree que verdadeiramente me importa. O da terra imensa, da tranquilidade, do pão. A herança de gente simples, tisnada de sol e de agruras, cuja genética amastinada me corre pelas veias e me protege o perímetro vital se algum lobo se aproxima.
Já não está nas bancas, e até a podemos encontrar na "Mundo Rural TV" em espanhol, mas aproveito estes dias para partilhar a crónica "Rafeiro como Eu", publicada na "Mais Alentejo" nº153, em que falo um pouco sobre os cães da minha vida, sobre esta minha predileção pelo Rafeiro Alentejano e, para variar, me ponho a divagar. Se vos apetecer ler, aqui está (recomendo a versão do blog), no entanto, vamos ao mais importante: Boas Festas!
Ya no está en los quioscos, e incluso podemos encontrar en "Mundo Rural TV" su versión española, pero aprovecho estos días para compartir la crónica "Rafeiro como Eu", publicada en la “Mais Alentejo” nº153, en la que hablo un poco sobre los perros de mi vida, sobre esta predilección mía por el “Rafeiro Alentejano” (mastín del Alentejo) y, para variar un poco, me pongo a divagar. Se os apetece leer, aquí la tenéis (recomiendo la versión del blog), sin embargo, vamos a lo más importante: ¡Felices Fiestas!
"Será possível viver sem antecipar o dia seguinte?" oiço, sem ser questionado, e tento responder para mim mesmo. A resposta chegou cansada e sem antecipar nada, excepto a fragilidade destes dias.
Uma ilustração da portuguesa © Susana Carvalhinhos (1981) para esta greguería do espanhol Ramón Gómez de la Serna (1888 - 1963)
Para saber mais de Susana Carvalhinhos.
"soltar amarras, para singrar no oceano da procura livre, com o horizonte limpo a todos os rumos e aberto à audácia da investigação" - António Sérgio
Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasovna Lispector (em russo: Хая Пинхасовна Лиспектор; Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977).
A QUINTA HISTÓRIA
El invierno del dibujante es una novela gráfica de Paco Roca, publicada originalmente en 2010 por Astiberri Ediciones. (Wikipedia)
Paco Roca investiga en El invierno del dibujante la salida de los autores estrella de la editorial Bruguera para fundar, en tiempos oscuros, una revista que les hiciera más libres.
La vida en Bruguera con la dictadura de Franco como telón de fondo y la salida de sus dibujantes estrella para fundar Tío Vivo, una nueva revista que les permitiera conseguir mayores recursos, mantener el control creativo de sus personajes, etc. –lograr una mayor libertad, en definitiva–, como metáfora del régimen franquista, es el marco y la esencia de El invierno del dibujante, la nueva obra de Paco Roca, Premio Nacional del Cómic 2008 con Arrugas.
Y es que en la España de 1957 ser historietista era un oficio. No eran artistas, eran obreros de la viñeta. Cobraban a tanto por página (o por viñeta), trabajaban a destajo, siguiendo unos patrones establecidos e inamovibles. Renunciaban a sus originales y a sus derechos de autor a cambio del dinero cobrado. Pero en ese 1957 ocurrió algo que quebró la monotonía y sembró la esperanza. Cinco extraordinarios historietistas, famosos por sus personajes, osaron rebelarse.
(Continúa en Astiberri)
Premio al mejor guión de autor español de 2011 en el Salón Internacional del Cómic de Barcelona
Premio a la mejor obra de autor español de 2011 en el Salón Internacional del Cómic de Barcelona
Premio al mejor autor extranjero en el Treviso Comic Book Festival 2011 (Italia)
Premio al mejor guión nacional en Expocómic 2011, el Salón Internacional de Cómic de Madrid