Subsídio directo para versos
será poesia estatal ou institucional?
O poeta subsidiado
encontra-se com a
musa das nove às cinco.
Em horário de
expediente
entregam-se a
afazeres e tarefas de amantes.
(Há que ser valente
mostrar tanto afecto
à frente
do patrão)
O poeta subsidiado
deixa de ser poeta
nas horas livres,
de ócio,
sem o controlo do
relógio
e de picar o ponto.
O poeta subsidiado
deixa de ser poeta
à porta do teatro,
no supermercado
e carregado com as
compras do mês no carro.
O poeta subsidiado
tem a obrigatoriedade da conta
no banco do estado.
Mas o banco do
jardim confessa à passarada
que não o tem
visto, nem à sua lírica
auxiliada.
O poeta subsidiado
vive dos fundos e
das siglas
da literatura de
candidatura.
O pedreiro que
alicerça o prédio
em frente manda
piropos em verso
(até que seja preso
por ter mais poesia
nas unhas cheias de
cimento
que tem um qualquer
poeta
inspirado
por um mecenato
pago por impostos
imposto
por uns poucos).
O poeta subsidiado
que peça ao
pedreiro,
(depois um
expediente carregado e nada apoiado),
que seja o seu
mecenas. Que a sua poesia
lhe alivia dos
tijolos a sua vida. Não o estado
armado em literato.
Se estivesse estado
a um possível mecenato de:
“vai mas é ser
poeta,
ó poeta de merda!”.
Com um verdadeiro vocativo
podia ser que
merecesse candidatar-se
a uma tranche de
dinheiro privado
para obra sem
cimento nem edifício futuro.
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