Redondo, S. Miguel de Machede e Évora, 2 de janeiro de 2016
Ontem percorri parte das minhas raízes acompanhado pela minha mulher e filhos. Dei alguns abraços a quem ainda lá está. Foram sinceros no aperto e na necessidade. O sol mostrou-me que o verde teimava a espreitar na cinza constante do dia. Estradas novas, estradas de sempre esburacadas e com vista para paisagens que não mudam em beleza mas que perdem tanta gente.
A casa da minha bisavó ainda lá está. Em ruínas. Como as que recordo com ela ainda viva. Não se construiu nada ali nem na minha memória. As paredes talvez ainda se recordem dos partos que fez e que tantos já são óbitos como os seus filhos. Bisneto de uma parteira que a senilidade fez que não gostasse nada de mim. Nem eu dela. Não me lembro muitas vezes da minha bisavó, mas não quero esquecer que sou bisneto de uma parteira que tinha o nome de uma flor.
Fiz questão de deixar o meu filho mais velho com os meus pais, essas raízes que ainda estão vivas, porque não me atrevi a falar-lhe das raízes secas por onde havíamos passado.
Parei o carro numa alpendurada dum supermercado. Atrás os meus filhos dormiam e eu esperava com a rádio a chover miudinho que a minha mulher trouxesse o pão que poríamos na mesa nesse jantar. Porque é que a minha cidade está tão triste? Porque é que é visível tanta necessidade naqueles rostos envelhecidos de gente que ainda vai vivendo naquele que foi o meu bairro?
Emocionei-me. Não pude chorar. O meu bebé acordou.
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