nasceu sem nome. a parteira que o ajudou a existir pensou: "ai desgraçado, antes sem mãos do que sem nome". teve uma infância sem diminutivos carinhosos nem aumentativos feitos uma alcunha qualquer. foi biologia de criança até descobrir-se adolescente sem identidade (no grupo só se dilui a individualidade quando ela é perfeitamente identificada num colectivo). passou ao lado da adolescência para chegar a adulto e pugnar pelo seu lugar no mundo de nomeações. se ninguém fora capaz de fazê-lo, o próprio nomear-se-ia pela teimosia da vontade.
farto de ser ignorado por não ter sido registado com nome numa cédula de nascimento, por não ter nem filiação, santos ou padrinhos, dirigiu-se a uma conservatória do registo civil e, depois de hesitar em tipo de nome se revia, optou por "anónimo".
saiu feliz com a sua própria identidade, aquela que ele mesmo escolheu, fruto do que as circunstâncias haviam semeado.
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