domingo, janeiro 29, 2017

266085917

Houve uma época em que sabíamos vários números de telefone de cor. Marcávamo-los muitas vezes, botão a botão (ou então com o dedo enfiado num determinado orifício a iniciar um movimento de rotação, com um som que não voltei a ouvir em mais nenhum aparelho).
A técnica evolui tanto, adquire tanta memória ram, que a nossa acaba por ser furtada nessa evolução. É um roubo de luva branca, elegante e consentido, do qual não me tinha apercebido até hoje me ter cruzado com o número que mais vezes marquei na vida e o qual ainda tive guardado nos meus primeiros telemóveis. Quando desapareceu a voz do outro lado da linha custou-me bastante apagá-lo da lista de contactos. Era apenas um número mas para mim esteve mais próximo duma amputação que dum "delete".
266085917 era o número fixo dos meus avós a quem telefonei durante 30 anos. Hoje já nem o dos meus pais sei de cor. A técnica roubou-me a memória? Podia dizer que sim, mas não sou gajo de culpar os outros pelos meus defeitos, sejam eles de memória ou não.

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