Sintonizar as manhãs de domingo com um velho rádio Philips é um hábito que me ajuda a suportar o peso do dia mais odioso da semana. Por isso, as manhãs ainda são leves, infantis, sem o trauma da tarde que me vai levar à escola de segunda-feira.
Por manter esta rotina, promovida desde a tenra infância com um rádio ligado à corrente mal acendíamos o interruptor da luz, na casa-de-banho dos meus pais, o génio electricista do Sr. Hipólito ainda me traz melodias, notícias ou tertulias em ondas hertzianas nos momentos de teórica privacidade, de asseio ou escatologia. Lembro-me do meu pai zangar-se frequentemente comigo por lhe resintonizar o rádio em estações como a local "Rádio Jovem", a "Cidade FM" ou a "Antena 3" e me dizer que no rádio da casa de banho (e do carro, há que referi-lo) mandava ele.
A rádio, cuja vedeta da MTV não o matou mesmo depois de alguns assim o vaticinarem, continua a resistir, a alegrar as caras que se barbeiam pela manhã, a fazer de cicerone em estradas de vidas a deslocarem-se de casa ao trabalho, ou vice-versa, a deslocarem-se simplesmente porque é preciso, sintonizada no autorádio ou no smartphone de ouvidos absortos em headphones. A rádio não morre e é a rede social mais isenta e profissional que vou conhecendo.
Apesar de ter disponível tantas parafernálias tecnológicas disponíveis, e das quais sou usuário, volto sempre ao básico, resintonizo-me com o simples acender do botão do velho rádio do meu pai.
(Esta foto é do nosso rádio a pilhas, moderno, pequeno e um capricho para mostrar aos meus filhos a beleza dos objetos também está na sua história...)
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