Começou a chover devagarinho, gota-a-gota, até a noite ser iluminada por raios, relâmpagos, como tantos de nós, saturados de suor e calor.
Nada é o que é neste mês, tal como ninguém quer ser quem é ultimamente. Setembro zangou-se com o calendário e com a gente. Fartou-se do imperialismo do Janeiro (de Janus cujo poder abarca todos os começos) e assumiu-se como o primeiro mês do ano, o do regresso. Mantém o Verão e não revela o mais mínimo interesse pelo Outono. Este Setembro é como é: violento e de extremos. Ao contrário da maioria, quer ser quem é. Não quer nada de mim, nem eu dele. Coexistimos nestas trinta noites, mas nem ele nem eu somos os mesmos desta coexistência de quase quatro décadas...
Continua a chover. Há beleza nesta luz rasgada no céu. Já não chove devagarinho. A timidez do gota-a-gota desapareceu num jorrar de trovoada extrovertida. Setembro e eu, os dois que nos ignoramos, que não queremos nada um do outro, mas não podemos ficar quietos a olhar um para o outro...
Abro a porta do carro e caminho sem abrigo. Por momentos, pensei que esta chuva de Setembro fossem as lágrimas que estes últimos tempos de tanto calor me secaram... Molhado, Setembro atira-me à cara que também eu não quero ser quem sou.
Chuva de Setembro |
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