“Nestes trinta anos a fazer versos, se me reconheço em algo, é na nostalgia. Às vezes digo, para me auto-iludir, que sou um romântico, um ultra-romântico, um sentimental, um rural por oposição ao citadino seco, mas de facto sou um nostálgico. Uso pouco a palavra saudade, em detrimento da palavra nostalgia. O conceito de nostalgia é muito mais dorido do que o de saudade. A saudade é bonita, dá para o Carlos do Carmo e a Amália cantarem. A nostalgia pressupõe amigos que morrem; mulheres amadas que desaparecem, filhas que crescem e já não são como eram em pequeninas; eu já não tenho a destreza dos vinte anos, já não jogo à bola, já tenho digestões difíceis. A nostalgia não está devidamente contemplada na poesia portuguesa. À força de tentarmos fazê-la passar por uma categoria filosófica menor chamada saudade, esquecemo-nos de que o tempo foge e ninguém o agarra.".
Fernando Assis Pacheco em entrevista a Rogério Rodrigues
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