Tenho os pés inchados. Antes isso nunca me acontecia. Era rijo de pés, como dizia o meu avô. Caminhava pelo Verão e pelo Inverno com uma facilidade primaveril por entre as folhas pontapeadas nas ruas infantis dos Outonos eborenses. Era-me indiferente a comodidade do calçado então e domei botas alentejanas que me acompanharam até se fundirem com o chão. Hoje já aprecio sapatos confortáveis. Só depois dos pés aliviados vem a estética imposta pela moda e pelo estilo que cada qual vai adquirindo ao longo dos anos.
Tenho os pés inchados. Nada do outro mundo. Sinto uma rigidez dos gémeos e um ligeiro rugir articular do tornozelo direito - caído em desgraça numa escalada de excesso de confiança em Puerto Roque -. Não coxeio, mas já não me atrevo a aventurar-me a coleccionar experiências, a vencer medos, a querer ser radical. Escalo mais seguro em cordas e pontos de apoio, porém porque é que me sinto constantemente em queda livre? Não importa. Voltarei a tentar domar umas botas alentejanas. Preciso de chão.
"Botas Alentejanas" de Joseph Liszt (Évora, in "Olhares") |
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