Ver o Natal brilhar nos olhos dos meus filhos faz-me fazer um esforço por recuperar a época natalícia da minha infância. Longe do consumismo do século XXI, fazer o presépio e a árvore de Natal em casa dos meus pais marcava a contagem decrescente para o dia 25 de Dezembro. Lembro-me do primeiro pinheiro artificial que tivemos (acabou em casa dos meus avós) e das figurinhas do presépio que a minha mãe foi juntando ao longo dos anos. Ir ao musgo, procurar essa relva em miniatura, era uma tarefa que significava estar quase a chegar a celebração do nascimento do Menino Jesus. O presépio fez-se, durante anos, no lugar da lareira onde não a acendíamos e que só mais tarde teve salamandra. Retirávamos a caixa de Skip dos meus brinquedos e a braseira de cobre de decoração para, durante mais ou menos um mês, erguermos uma aldeia cujos lagos eram fragmentos de espelhos, a vegetação musgo da quinta ou do descampado em frente de casa, e a neve, essa precipitação que só viria a conhecer bem gaiatão, eram dedos polvilhados de farinha. Por entre pastores, rebanhos, Leonores a irem à fonte, poços em colinas e pontes em água estagnadas a refletirem a minha inocência, lá foram Playmobiles, Legos, GI Joes e até o He-Man e o Skeletor, junto aos Reis Magos, adorar o recém-nascido salvador.
Verdade que o presépio da minha meninice foi guardado nessa caixa de lata azul e foi subtraído, acho eu, para casa da minha irmã. A minha mãe tem vários presépios nas vitrines da sala de jantar. Herdou esse gosto da infância que só nos últimos anos pôde consolidar. Mas o seu humilde presépio, o primeiro, teve três infâncias: a dela, a da minha irmã e a minha.
Hoje, com um presépio «Made in China» e musgo virado a norte no nosso campo aberto à infância dos nossos filhos, fizemos o nosso primeiro «Portal de Belén» n'Acourela. Para eles, como para mim, as figurinhas pouco diferem da bonecagem com que brincam, porém o acto é simples e solene. Só se faz uma vez ao ano. Mais do que nascer, pode ser que signifique um renascer. Um pouco melhor, um pouco mais puro, um pouco mais criança.
Presépio d'aCourela do Alentejo |
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