Nunca prestei atenção «aos santos», como por aqui se diz. Quanto muito associava Santo António, São João e São Pedro a Junho, associava-o ao final das aulas, à feira e ao dia da minha cidade. Évora celebra o São Pedro, o apóstolo que, mesmo negando Jesus três vezes, assumiu a representação simbólica do filho de Deus na terra.
Há tempos escrevi sobre pedras, sobre a sua beleza, ou melhor, como encontrar beleza nesses minerais. Escrevi sobre o nome Pedro e sobre os Pedros que são ladrilhos fundamentais nesta minha passagem por uns quantos Junhos que detecto por cheiros, madrugadas luminosas e algum calor refrescado à sombra duma árvore acompanhado por um amigo e uma «cañita».
São Pedro é o final de Junho. São Pedro é o santo a quem atribuo o dom da amizade e da continuidade do belo e do efémero. É a hagiografia peregrina da curta distância, da proximidade.
Dou por mim, nesta manhã em que confundo horas de pulso com realidades solares, a lembrar-me que o Maio em que nasci foi sucedido por um mês santo, de solsticio, que só adquire santidade porque aceita a sua verdade profana.
O meu santo também é de Junho. Sei-o desde há uns anos e foi Espanha quem mo ensinou. Portugal não se lembra da santidade dos nomes, é Dia do Pai e não dia de São José para a esmagadora maioria. Se calhar a maioria acredita que o JC é filho biológico do Magnânime e que São José não passou dum padastro que não o fez subir o degrau social, mantendo-o na carpintaria.
Não sei o porquê. Ter-se-á Portugal esquecido primeiro dos seus santos? Será que o seu republicanismo lhe bloqueou o passado hagiográfico? Terá amnésia anti-clerical? Não sei, mas acho que não é nada disto. Talvez Espanha preste mais atenção a aspectos herdados da religião que não são nada mais do que isso, irrelevâncias recordadas desde um calendário pendurado na parede, muitas vezes duma conhecida marca de pneus e com uma santa a mostra-nos os seus atributos. Talvez.
Cada vez mais distante dos preceitos da religião, assumo-me beato e devoto de vário santos que felizmente não estão em nenhum altar sagrado, mas encontro no mais profundo e profano dia-a-dia.
Agora, chega de divagações e vamos lá celebrar o São Pedro!
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