Foda-se... Sim, só esta manhã, ouvi e li umas sete ou oito vezes este neologismo de «empoderar». Ainda por cima num contexto formal, de propostas para um mundo mais sustentável, algo que se assume como melhor e mais justo.
Em espanhol é mais frequente ouvir esta palavra do que em português. Até já a encontrei no léxico de uma jovem poeta argentina, tida por alguns como já uma das grandes que não se ficou por promessa.
Não gosto desta palavra. Não gosto de como se usa uma palavra derivada de «poder» para promover a igualdade e a dignidade humana. É verdade, é uma embirração minha e sei que tenho telhados de vidro com vernáculo verdadeiramente mal-visto e por mim usado e abusado.
Não gosto de poder. Dispenso-o. A ambição por qualquer tipo de protagonismo de comando rodeia-nos desde sempre. Há aqueles que verdadeiramente mandam nesta merda toda, não há melhor maneira do dizer. Sabemos bem quem são e, desde as altas esferas da influência, ditam as regras do jogo. Com estes cohabito sem grande desprezo quando comparado com os «pequenos poderes».
Foi com uma canção do Caetano que adquiri esta noção de vários minúsculos poderes a perpetuarem e legitimarem o sistema. Estou a lembrar-me da velha frase «você sabe com quem está a falar?» ou de vários directores que tive e até de uns professores quando era puto.
Sim, sei. Um «empoderado» adquire poder, recebe poder e usa esse poder para se afirmar, tendencialmente para questões de género. O Stan Lee anteviu estas coisas em superpoderes com o Spider-Man, com o seu já mítico chavão moral «com grandes poderes vêm grandes responsabilidades» e, o que é certo para quem conhece o universo do escalador de paredes, o pobre Peter Parker quantas vezes não deseja «desempoderar-se».
Não tenho nenhuma credibilidade para falar de «empoderamento», nota-se. Como não tenho para outras coisas, contudo, sinto-me defraudado, manipulado por um pretenso pensamento progressista (aí está outra palavra para esmiuçar antes que ma vendam e ma obriguem a comprar). Quem sabe até já serei um reaccionário só por não gostar desta palavra e como o seu uso me parece estar a ser «empoderadamente» pervertido. Pode ser que sim, mas estou-me nas tintas. Não devo ser progressista.
Esta tendência de uso vocabular só engana os ingénuos, os que não prestaram atenção aos que os precederam. «Se queres conhecer o vilão, põe-lhe a vara na mão» é velha sabedoria do povão. «Se queres ver porque tanto se tem abusado, olha para quem foi empoderado», penso eu, um gajo de rimas fáceis, e vazias, como este raio de palavra. Para quê inventar «empoderar» se o que sempre fez falta foi humanizar, dignificar? Foda-se... Porque é que somos tão estúpidos?
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