Barbara Kruger interveio na imprensa dos EUA com um anúncio que duvido trazer qualquer tipo de reflexão para a administração do sr. do penteado laranja.
«Um cadáver não é um cliente» parece ser uma verdade tipo soco no estômago e talvez o seja para qualquer pessoa cuja visão do mundo não se remeta apenas para a matéria.
Confesso que a mim apenas me fez cócegas na barriga, pois ultimamente o estômago parece estar treinado para encaixar verdades ainda mais desagradáveis do que esta. O calo ajuda-te a sobreviver, deixa-te a pele mais dura e áspera ao toque, mas não impede que envelheças e te isoles. Lá por dentro há uma tristeza assumida, porém, não quero isolar-me mais e ver como, em nome de materiais não essências, me querem afastar do que não traz lhes lucro mas para mim é essencial.
A activista de 75 anos esquece que também há um mercado para os cadáveres, mas é como o das bananas, perecedoiro. O cadáver é o derradeiro consumidor em alguns casos. Lembro-me que a minha avó Rita tinha a obsessão da roupa e do dinheiro para o funeral. Teve o fato para o caixão anos a fio pendurado no armário de contraplacado do divã. Morreu bastante mais tarde e não o levou vestido. Também não foi ela quem pagou o funeral.
A morte é o negócio dos «Sete Palmos de Terra», brilhante série, da qual fui cliente antes do bombardeamento de séries e plataformas inesgotáveis. Cadáveres em potência somos todos, agora resta saber qual vai ser a nossa última compra. Sei que não me preocuparei com a roupa nem com o caixão para a cova porque alguém antes se preocupou por mim. Hoje entendo, perfeitamente, a minha avó Rita.
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