Consegui o uso da
razão.
Perdi o uso do
mistério.
Desde então, a
evidência
sempre rara, dá-me
medo.
Dá-me medo quando
ladra
no canil o meu cão.
Talvez me esteja a
cumprimentar.
Mas não o entendo.
Não entendo.
A criança que fui
lembra-se.
Afunda-se em mim
como um abismo.
A criança que fui
chama-me
a gritar com o
silêncio.
Vi-me nos meus
retratos,
de marinheiro, a rir
com caracóis loiros
e um ar
espevitado e
impertinente.
Quem eras tu? O que
sabias?
Agora só sinto
sono.
Aturde-me o teu
desafio
e o teu riso dá-me
medo.
Já não posso, sem
parti-los,
atravessar os
espelhos.
O meu sistema não
funciona
como antes.
Desculpa.
Se funcionasse,
talvez
não escreveria
estes versos.
Choraria de outro
modo.
Diria tudo em língua
canina.
Mas acho que sou
algo mais que uma
criança morta,
e como estou meio
careca
faço caracóis com
os meus versos.
(Trad. Luis Leal)
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