Não fazia a mínima
ideia que hoje se celebra o 67º aniversário da “Declaração
Universal dos Direitos Humanos”. Sei-o graças a essa enciclopédia
de informações úteis (mais vezes inúteis e com gatinhos fofinhos
à mistura), que são as publicações nas redes sociais, de tantos
como eu. Se fosse um humano
já tinha uma idade bem respeitável, como não o é nem se respeita
muito a cronologia dos anos e muito menos o que se declara neste
documento.
Acabei de almoçar
sozinho em casa. A família está noutros afazeres. Dói-me o
estômago nesta solidão de comer sem companhia e também devido ao
desejo de Natal que uma aluna hoje partilhou comigo e, com tanta
coragem, com toda a escola: “Que o meu pai encontre um trabalho
digno”. Enquanto a ajudava a
transcrever a sua intenção para o A3 dos cartazes apenas fui capaz
de esconder-me na minha
tristeza camuflada por palavras de optimismo.
Saí do sítio onde,
felizmente, ou melhor, ainda, tenho dignidade no meu trabalho e recebo
no telemóvel a notícia de que, no país onde nasci, o ordenado
mínimo sobe para 530€ mensais. Claro que a este valor há que
descontar a sustentabilidade obrigatória da segurança social, o que
perfaz a módica quantia de 466€, mais cêntimo menos cêntimo.
Ainda há que ter em conta, mesmo com tão modestos valores, o efeito
de erosão salarial pelos elementos da inflação prevista para o
próximo ano. Parece que são 20€ o que o rico trabalhador, nos
mínimos salariais, lucrará.
Volto à intenção
da minha aluna, à sua coragem que me diminui e humilda, e formulo o
meu desejo, de quem acredita e vai escrever ao Pai Natal, para que
todos os mandadores da despiedada finança, magnatas de condomínio fechado
à realidade, políticos carreiristas e moralistas que predicam só
com o exemplo de bater com a mão no peito, tenham a sorte única
desde aumento e que, durante um ano, vivam dignamente com 466€
mensais.
Para que este meu
desejo seja ouvido, se é que o meu comportamento é digno de ser
recompensado desde a Lapónia, onde se encontra a sede da Coca-Cola,
vou ainda escrever uma carta ao Menino Jesus e deixo um bilhetinho
aos Reis Magos.
Sem comentários:
Enviar um comentário