terça-feira, março 22, 2016

A felicidade é voltares sempre que quiseres...

É dia do pai e todos os escaparates mencionam-o da forma mais visível possível. Não é a primeira vez que escrevo sobre efemérides forçadas no calendário e é mais do mesmo.
Curiosamente, este sábado dia do pai tem sido passado em solidão de folga da responsabilidade da paternidade. Estou num dia de chuva enfiado num centro comercial e escrevo ao lado de um cartaz em forma de guru que me diz "a felicidade está nestas ofertas".
Reconheço que hoje deixei a minha coragem a 250km de distância e não me atrevo a buscar os raios de sol sem guarda-chuva. Espero a consumir. A consumir-me tempo e ideias. Penso que o tempo que gastei a trabalhar, o salário auferido com o sal dos meus dias, vale a pena ser investido num filme infantil, num disco de heavy metal, numa novela gráfica e numa revista semanal. Sou induzido a acreditar que o que trago dentro do saco passará pelo filtro das minhas lentes miopes e dos meus ouvidos cicatrizados por otites de miúdo e me enriquecerá como enriquecem os proprietários destas grandes superficies que me desumanizam com a minha autorização por escrito.
Esse sou eu. Um pai só numa tarde de sábado. Um filho que preferia estar com o seu pai. Um neto ausente da morte lenta do seu avô.
Escrevo sentado num teclado dum telemóvel inteligente e suspeito do segurança a observar-me de costas desconfiadas.
Lá fora espreitam uns raios de sol. Tenho medo. Mas vou sair deste templo em que me ajoelho para pagar o dizimo do meu tempo. Na pior das hipóteses apanharei uma molha. A relação dum homem com a chuva traiçoeira é natural...  Qual será a minha natureza?
Saio da loja e o guru não me deixa ir embora sem a sua sabedoria.
- A felicidade é voltares sempre que quiseres!

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