Era uma gravação que estava a ver. «Kirk Douglas, el indomable», da «Dos». E por algum motivo, não sei se pelo seu posicionamento contra o macarthismo, contra a Caça às Bruxas em Hollywood, ou o seu orgulho pelas suas raízes humildes, de filho de trapeiro, exclamei que o velhinho Kirk Douglas, o Espartacus do Kubrick, sabia o que era a dignidade. Não sei bem o porquê de exclamar dignidade, podia ter mencionado coragem, rectidão, princípios, mas destacou-se dignidade.
Apenas me lembro de tê-lo dito em voz alta porque o meu filho mais velho me perguntou o que significa dignidade.
Descalcei a bota com alguns exemplos de respeito pelos outros porque sobressai o respeito pelo próprio, mas com um pragmatismo adaptado aos seus nove anos acagaçados com o «Corona Vírus», já a contagiar em Espanha.
No entanto, não sei se lhe ficou vincado o espírito do velho Espartacus, de rebelar-se contra a escravidão imposta por outrem. O facto de me perguntar é um sinal que me deixa feliz, me orgulha. Pode não saber definir o que é dignidade, mas o seu íntimo já se rebela contra a ignorância, contra o comodismo de preferir não saber nada. Dentro do peito dos meus filhos brilha a luz da liberdade. Cabe-me protegê-la enquanto sejam minha responsabilidade paternal. O que é que eles vão iluminar será decisão sua, aí já não me meto.
Como pai, até acredito que me possam custar futuras decisões. Parece fazer parte do fado progenitor. Mas espero estar disponível para irmos caminhar, ver o pôr do sol de domingo e ouvi-los. Se eles quiserem também posso falar e lembrá-los das perguntas que eles me faziam em criança, essas que, mesmo sem resposta, eram sempre respondidas...
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