quinta-feira, fevereiro 06, 2020

Etiqueto-me a esta bicicleta... / Me etiqueto a esta bici...


Hoje, a falar com uma amiga, fiquei com a certeza de ser visto como um gajo que escreve sobre bicicletas. Ter velocípedes etiquetados à minha pessoa até me agrada e também ajuda a não ser só visto como um gajo que escreve sobre a fronteira, sobre a rai(y)a. Se voltar a publicar qualquer coisa (e ando a pensar em rafeiros alentejanos), pode ser que fique rotulado como o gajo que escreve sobre cães do Alentejo...
É fácil, nesta pós-modernidade, ficarmos associados ao que quer que seja, imagens principalmente. Nas redes sociais, basta verem a tua fronha, rotulam-te de forma automática. Não nego a utilidade do algoritmo, como não nego o receio que me produz. O reflexo, por mais estético que seja, não é necessariamente essência, pode apenas encandear.
Etiqueto-me a esta bicicleta. Foi a primeira que comprei com o meu dinheiro e vendi-a a um bom amigo que jamais será associado a pedalar. Para além desta fotografia está o mar, Aljezur, peças de segunda mão, quedas, o meu tio Leopoldo, o Mestre Carrapato, o Luis, o Miguel e uma imagem que, num laboratório qualquer, umas mãos reais revelaram.

Hoy, hablando con una amiga, tuve la certeza de que soy visto como un tío que escribe sobre bicicletas. Tener velocípedos etiquetados a mi persona no me desagrada e incluso ayuda a que no me vean solo como un tío que escribe sobre la frontera, sobre la ray(i)a. Si vuelvo a publicar lo que sea (y me estoy planteando escribir sobre chuchos alentejanos), puede que quede el rótulo del tío que escribe sobre perros del Alentejo...
Es fácil, en esta posmodernidad, que nos asocien a lo que sea, imágenes principalmente. En las redes sociales, basta que nos vean el careto, y te rotulan de forma automática. No niego la utilidad del algoritmo, como no niego el recelo que me produce. El reflejo, por más estético que sea, no es necesariamente esencia, puede solo deslumbrar.
Me etiqueto a esta bici. Fue la primera que me compré con mi dinero y la vendí a un buen amigo que jamás será asociado a pedalear. Más allá de esta fotografía está el mar, Aljezur, piezas de segunda mano, caídas, mi tío Leopoldo, el maestro Carrapato, o Luis, o Miguel y una imagen que, en un cualquier laboratorio, unas manos reales revelaron.
Aljezur (2002)


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