Fui albarroado com uma cultura inacessível ao meu mundano dia-a-dia e reconheço-me ignorante. Qualquer coisa que escreva não será vanguardista, não terá siglas de um tal EP (Ezra Pound, confessou o erudito), não terá a sonoridade de Satie, não terá milhas de viagens que inspirarão textos ou poemas. E fico feliz por assim ser.
O poeta erudito, com veia académica, porém, não tenho a certeza se está vinculado formalmente à academia, mencionou várias vezes outros poetas, referindo-se a vários deles como «poetas menores». Não me soou a arrogância tal referência, devo reconhecê-lo, mas não pude deixar de sentir que a enciclopédia, por mais que a admire e me seja útil, não é o local propicio a versos pouco fingidores, a versos comprometidos com qualquer tipo de condição.
Saí do evento cansado, como saio de algumas aulas em que o excesso de informação desgasta o entusiasmo pelo conhecimento. Saí quiçá mais erudito, mais polido para brilhar em espaços de presunção, mas saí sem a poesia «maior», a qual ia à procura e ali consigo encontrar.
Cheguei a casa e, enquanto bebo o meu cházinho junto à lareira de fingir, abro o Facebook. Passo o polegar rápido, sem grande interesse, mas a minha atenção prende-se numas quadras que Teresa Rita Lopes publicou no seu mural. Eram de António Aleixo e menores, certamente, para o poeta «maior» (será que ele assim se considera?). Contudo, essas duas velhas quadras, dum poeta que nunca conheceu ou anseou ser Ezra Pound, um vanguardista ou um «beatnick», deram-me mais poesia do que quase duas horas de vertigem... quem sabe poética? Mas isso é para gente «maior» do que eu.
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