quarta-feira, junho 02, 2021

Prémios, artistas e artesões...

Leio o valor de um prémio cultural numa notícia e, tão acostumado que estou à miséria que se dedica a este tipo de iniciativas, fico surpreendido. Quase cinquenta mil euros, avança o jornal. 
Afortunado o vencedor, cuja candidatura, pelo que diz este meio da imprensa, foi feita por instituições culturais e universitárias, muitas delas pagas com dinheiro público. Ainda bem que estas iniciativas existem, comparadas com outras de valores bastante superiores, estas ainda deixam um legado artístico ao acesso de quem dele quiser desfrutar. Contudo, nestes momentos em que me apercebo deste tipo de candidaturas, penso sempre que quem já anda por estes meandros há alguns anos talvez não necessite desta promoção institucional, cujo critério reside em uns quantos pares que costumam pender sempre para os mesmos ímpares.
Lembro-me do António Aleixo, da sua poesia popular, das suas quadras para além da rima fácil e merecem ser vistas como máximas de sabedoria. Alguns, sem sequer o terem lido, votam-no para um lirismo de segunda, tosco, previsível e sem arte. Não era poeta, era um analfabeto que aprendeu a ler só para rimar e por não ser capaz de entender o quão culto é um verso em branco. É claro que a academia não dá importância a gente assim, refugia-se no canon e entendo, muitas vezes, o seu critério.
Mas, por mais que o entenda, continuo a sentir que deveriam cuidar e ajudar a promover a genuinidade dos Aleixos em vez dos artifícios do renome, talvez porque sei o quanto um apoio económico a um pobre artesão o pode ajudar a, quem sabe, subir no degrau subjetivo da arte e um grande artista, numa posição consolidada e economicamente estável, na melhor das hipóteses, continuará a ser um grande artista.

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