terça-feira, janeiro 27, 2009

Como se reflecte sobre “ser Portugal” na Península Ibérica nos comentários de um post no blog “Puntos de Vista y Nada Más”. Fica aberta a discussão.


Blogger saphou dijo...

"Portugal não devia existir. É fruto de um pecado de um filho contra a mãe. Depois, quando estivemos sob o domínio dos Filipes- nunca estivemos tão bem- de novo armam uma história para expulsar os castelhanos.
Portugal é, de facto uma província de Espanha, do ponto de vista económico estamos completamente colonizados, desde a cadeia de televisão que tem mais audiências, a TVI, ao Banco Santander Totta, passando pela Zara e pelo Corte Inglês, para dar alguns exemplos.
Assumo que queria ser nacional de uma provincia espanhola, tanto me faz qual.
Mas há ainda um patriotismo bacoco, expresso, por exemplo, nos amigos de Olivença, e num generalizado frisson contra espanhóis por parte do português médio, talvez por razões ancestrais, além da história da Carlota Joaquina, que deu origem ao ditado popular "De Espanha, nem bom vento nem bom casamento".
Um psicanalista explicaria isto tudo como a inveja própria do português médio.
Por mim, Espanha só me trouxe alegrias e amigos".

Luís Leal Pinto dijo...

"Portugal não devia existir", diz o caríssimo Saphou. Sem dúvida um ponto de vista digno de nota, argumentado com alguns factos históricos e sociais evidentes e terminando com uma experiência pessoal "Por mim, Espanha só me trouxe alegrias e amigos".
Não podia estar mais em desacordo. Actualmente, apesar de todas as assimetrias que se vivem no país vizinho, no qual também nasci, está um território que desde que o "fruto de um pecado de um filho contra a mãe" foi consumado tem as mais velhas fronteiras da Europa, algo que vai para além do património das ideias. Não é que se viva do passado, mas ele também nos define, tal como esse dia fatídico, em Alcácer Quibir, na também chamada "Batalha dos 3 Reis", desapareceu um rei que, desde então, nos inculcou o saudosismo e um messianismo muito aproveitado na política e no futebol.
Depois tivemos esses 60 anos com os nossos irmãos Filipes, o 1º de Portugal soube bem gerir o país, o mesmo já não aconteceu com o 3º, mais interessado na cultura e no coleccionismo, esquecendo, como Maria Antonieta, que brioche não está ao alcance de todos.
O perfeito não existe em Portugal (que eu saiba, perdoem a minha ignorância, em mais nenhum lugar), apesar de eu achar que o "mesticismo" cultural que espalhámos pelo mundo e que persiste em 47% do território sul-americano, e também em locais interessantes de África, erroneamente chamado América Latina (devido a Napoleão III, se não me engano), deveria ser Iberoamérica, a par da 5ª língua mais falada no mundo já é algo.
Mas, como disse, não existe perfeição, principalmente a nível político, o que ainda foi mais agravado com a idílica Revolução dos Cravos em que se sonhou com um Portugal mais justo e com menos diferenças sociais, algo que nos põe em penúltimo lugar no ranking da EU. De quem é a culpa? Esta pergunta poderia ter sido feita em todos os séculos da história de Portugal.
No entanto, o pessimismo genético luso, junto com alguma mesquinhez (sim, é uma característica nossa), o intelectualismo baseado num sentimento de inferioridade (leiam a revista “Sábado” da semana passada e as declarações de Maria Filomena Mónica e outros intelectuais de renome), a sua isolada “litoralidade” (com o Atlântico muitas vezes confundido entre oportunidade e casa de banho), entre tantos outros factores, fazem com que se pense com frequência, como diz o Jorge Palma, “a vida é mais fácil para lá de Espanha”. Mas isto é um sentimento apenas e a forma como muitos portugueses se exprimem, a sua revolta é para com um colectivo, os status instituídos, as velhas estruturas que persistem (já as tentaram mudar, várias vezes, mas como diz a canção: “hoje joga o Benfica”, que ao menos fosse o FCP, ao menos costuma ganhar), e confundem isso com nacionalidade.
Seria impensável um Portugal sem a sua cultura, a sua genética idiossincrática lusa, anulado pela grande Espanha, seria mesmo “contranatura”, algo que a história não fez e dificilmente fará, o que não invalida o mal-estar sentido, ao qual um pouco mais de auto-estima, e não optimismo acéfalo, colectiva fariam maravilhas.
Quanto aos pregadores da desgraça, todos eles incluídos, que tal pensarem que todos temos as nossas características, portugueses, espanhóis, franceses, italianos, etc, e que é normal querermos estar do lado mais forte, daí que hoje em dia os nacionalismos, para mim, têm tanto sentido como a sua ausência.
Antes de ter nascido português, nasci ser humano, condição essa que, se quisermos, nos livra do peso desse fatalismo de merda, só assim nos livramos dos grilhões que fazem com que persistam essas diferenças sociais em Portugal. Pois reparem, os portugueses são egocêntricos no seu determinismo, pois só pensam que se vive mal no seu país, estão tão isolados que não vêem mais além… a miséria é igual em todos os sítios, o pior é a miséria de espírito.
Ah, valente Agostinho da Silva! Para ti bilhete de identidade nunca fez sentido!

SuprimirPuntos de vista y ... nada más dijo...

Nunca pensei que esta carta no jornal EL PAÍS poderia dar para um debate entre portugueses neste blogue. Só uma coisa: acho que os portugueses deveriam(os)ter um bocado mais de confiança no (nosso) país. Sei que Portugal é uma parte de Espanha (Espanha foi sempre sinónimo de Península Ibérica). Mas devem saber que a língua e a cultura portuguesa não teria chegado até hoje se tivesse atingido a independência em 1640.

Podemos ser optimistas, devemos sê-lo, o que não é sinónimo de tontos ou intelectualmente inferiores, algo que passa, nem que seja subliminarmente, no contexto social, cultural e político em Portugal.
Não me ponho com o discurso do “orgulho de ser português”, mas ainda há coisas que valem a pena. Essa é a realidade que tento mostrar que 1640 permitiu, pois como dizia o meu velho professor de filosofia os “ses, condicionais, no passado histórico, não existem”.

1 comentário:

o passageiro disse...

"Todos nós somos astronautas viajantes de uma nave espacial chamada Terra" B. Fuller
Lembro que estamos no Ano Internacional da Astronomia.
"Todos nós somos filhos da Lucy (Eva Negra)" E. Barbosa
Lembro que celebramos um qualquer aniversário do Darwin.
"Os portuguêses deveriam reinventar o conceito de litoral, já que por causa da Europa o nosso mar é agora a Espanha" J.Kuski
Lembro que um Premio Nobel há muito que chamou à aenção para o facto de os Ibéricos estarem de costas voltadas.
Parece-me que a Espanha tem hoje uma ideia mais clara do mumdo do que Portugal. Aliás é estranho que perante a crise internacional os nossos governantes tentem convencer-nos que o monstro não vai andar por aqui.
Termino com a frase que desenhei num postal para o meu amigo Sixto Galan : Os amigos, ao contrário dos paises, não necessitam de línguas, fronteiras ou horas diferentes para se entenderem.