Sempre que vou à Portagem
passo por Portalegre. Havia coisas a tratar e parámos nos locais indicados para
os afazeres. Só depois fomos em direção a Castelo de Vide para matar saudades
da paisagem. Ainda em Portalegre, bem no centro tristemente envelhecido, tomei
um café que me ofereceu o terceiro volume do Dom Quixote.
O "bookcrossing" é
das iniciativas mais bonitas, depois das bibliotecas públicas e escolares, para
o fomento da leitura e, quiçá, de um espírito mais iluminado. Tenho "El
Quijote" original, edição humilde mas bem completa, porém nunca terminei a
sua leitura apesar de ter lido várias adaptações e versões livres. Acredito que
muitos dos intelectuais das praças públicas internacionais tão-pouco o leram
mas o seu estatuto seria outro se o reconhecessem. Seriam honestos com a
inteligência do próximo, mas fundamentalmente seriam honestos consigo próprios.
Mentimos tantas vezes a nós mesmos que tornamos a mentira a verdade do que
somos.
Depois de Castelo de Vide, depois da bela e estreita estrada com árvores de tronco vestido de branco, chegámos à Portagem. Refrescámo-nos na companhia de bons amigos (para variar abusaram no preço do almoço graças ao nosso ar e companhia de estrangeiros) e fomos o que há anos somos. O Luis, o José, a Pepi, iguais aos anos que passam, fiéis ao afecto, com filhos e com a cumplicidade da Elsa, da Camino e do Rafa. Faltavam o José Manuel e a Maite fisicamente.
À volta, depois de uns mergulhos anti-inflamatórios e de umas conversas à beira do Sever, conduzi feliz em direção a casa.
Gosto de estar assim, acompanhado, rodeado por gente que não se julga, que apenas é o que é. Consola-me saber isso e ser eu, sem máscara, sem filtro social que não seja o da estima e da amizade. O que é que seria do Dom Quixote sem o seu fiel escudeiro (amigo que era o que era) Sancho Pança? Seria apenas mais um cavaleiro de triste figura. Ao homem incapaz de ser amigo por assim o dever ser, acontece exactamente o mesmo. É um triste homem...
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