quarta-feira, agosto 17, 2016

Victor "Young" Perez

O sol da tua infância tunisina
nunca deixou o teu coração ser francês.
Os teus punhos foram nacionalizados
mas tu nunca foste um protectorado de Vichy.
Obrigaram-te a levar a estrela
a ti a verdadeira estrela
o mais jovem campeão
do mundo
e de David.
O quadrilátero era de arame farpado
e o árbitro mais que comprado.
Com fome e sem sentires o jogo das tuas pernas
voaste pelo fumo das chaminés do crematório
a escorreres sangue de campeão,
verdadeiro, sem raça,
sem pureza que só existe
em farsas
e ideologias
que para a história
não foram mais que sofrimento
derramado em hemorragia.
A tua guarda debilitada
pela guarda de um campo de concentração
não te desconcentrou
nem pôde a humilhação
desleal doutra categoria de peso
fazer frente ao peso da alma.
Há quem afirme que o peso da alma são 21 gramas,
se assim é foram as tuas gramas
que se imposeram à tonelagem de crueldade
e fizeram do teu voo
um combate para a eternidade.
O sol em Janeiro na Polónia não se vê. Foi difícil marchar de pés sangrentos
para voltar à beira-mar do mediterrâneo.
Oportunista, como bom pugilista, encontraste um aberta na guarda da morte
e esquivaste o esquecimento.
Bastava-te um momento
mas uma bala fez-te ir ao tapete
antes de tempo.

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