Cruzares-te com versos desconhecidos, na ironia dos dias sublinhados pela convenção do calendário, só tem uma explicação: acaso. Pura casualidade em forma de apelo à reflexão.
Já na recta final do livro de Charles Simic, La vida de las imágenes – Prosa selecta, leio um ensaio, da autoria deste Pulitzer de Poesia, dedicado à poeta russa Marina Tsvietáieva. Não a conhecia, nem sequer me dizia nada o seu nome difícil de pronunciar, tal como, segundo o testemunho de críticos e tradutores, a sua poesia quase impossível de verter para outras línguas que não sejam o russo.
O ensaio de Simic, La tragedia de la vida, resume a sua biografia no título. Talvez também resuma a primeira metade do séc. XX, cheia de loucura e genocídios. Porém, foram os versos citados, com os quais termina o ensaio, que me detiveram neste domingo dedicado à morte de um homem, cuja história da humanidade ressuscitou e consagrou como “Filho de Deus”. Por sua vez, os mesmos versos também são os últimos dois do poema Por infolios nefando, de 29 de Setembro de 1915, traduzidos para espanhol por José Luis Reina Palazón:
¡Dios, no juzgues! ¡Tú no has sido
una mujer en la tierra!
A Semana foi Santa. A minha não mereceu letras maiúsculas, nem merece ser julgada. Muitos cordeiros de Deus continuam a ser sacrificados em nome dos pecados do mundo. A maioria mulheres e crianças. Sem intenção prévia à casualidade, acabo esta entrada nos senderos a rogar por elas.
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