é sair de ao pé de ti,
apagar-me em tudo isto,
deixar de ver o que vi.
Morrer é não estar em ti,
e mais do que não te ver,
é não ser visto por ti,
no deserto do não ser.
Morrer é como apagar-se
a chama que houve em nós,
é uma espécie de ficar-se
vazio da própria voz.
Vive o amor da atenção
que se tem por quem se ama.
Mas a morte atiça em vão
o fio que não dá chama.
Morrer é só não ser visto,
é passar a pertencer
a um livro de registo
que guarda o nosso não-ser.
(Eugénio Lisboa, Matéria Intensa, 1999)
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