segunda-feira, maio 21, 2018

O despertador

- Papá, oferece-me um despertador? - Diz-me o mais velho, de sete anos.
-Para quê? - Pergunto eu, a conduzir com ele e o irmão nos bancos de trás.
- Porque gostava de ter um despertador! - Diz-me ele com toda a convicção do seu mundo ainda a ser obrigatório usar cadeirinha de segurança.
- Vais-te arrepender de quereres um despertador e um dia vais odiá-lo. - Digo-lhe eu, agora sem saber se lho haveria de ter dito e deixá-lo sem os meus ódios de estimação.
- Não, eu quero ter um despertador! - Replicou com afinco analógico numa era digital.
- Ok, deve haver algum lá para casa... - Termino a conversa a pensar que, quando a merda do despertador tocar outra vez, o meu primeiro pensamento é: "quando é que posso dormir outra vez?".



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