A
adição às selfies não tem muito a ver
com um saudável amor de si mesmo: não é mais do que a marcha no vazio de um eu
narcísico que ficou só. Perante o vazio interior, o sujeito tenta em vão produzir-se a si mesmo. Mas é só o vazio
que se reproduz. As selfies são o eu
em formas vazias. A adição às selfies
intensifica a sensação de vazio. O que leva a uma adição assim não é o saudável
amor de si mesmo, mas uma autorreferência narcísica. As selfies são belas superfícies lisas e lustrosas de um eu esvaziado
e que se sente inseguro. Hoje, para se escapar ao vazio atormentador, deita-se
mão ou à lâmina de barbear ou ao smartphone.
As selfies são superfícies lisas e
lustrosas que ocultam por um breve tempo o eu vazio. Mas se as virarmos da
frente para trás, deparamos com o reverso coberto de feridas e que sangra. As
feridas são o reverso das selfies.
Byung-Chul
Han, A Expulsão do Outro, Lisboa,
Relógio D’Água, 2018, p.35.
Byung-Chul Han |
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