Faço questão de apanhar o barco até ao Cais do Sodré. Há anos que não o faço e, já que hoje até tenho disponibilidade, por que não tentar encontrar um pouco da minha ingenuidade provinciana entre o dia-a-dia dos que trabalham na capital?
Muito mudou desde a última vez que cruzei o Tejo de cacilheiro até Lisboa. Apercebo-me que falamos de, para aí, uns bons quinze anos.
É Abril e está frio para este mês que o T.S. Eliot chamou o mais cruel de todo o calendário. Não estou de acordo com ele. Abril é o mês em que aprendi a ver esperança no erguer de uma flor, porém, isso não interessa para aqui.
Crueldade só vejo no desequilibrio que por aqui encontro em cada passo que dou. Poderia dizer que tropeço em turistas, mas estaria a mentir. Há muitos, mas quem quiser olhar para outros sítios, ainda há muito que descobrir. Basta que deixemos de lado os óculos da massificação.
Crueldade vejo nestes ministérios, com fachadas de mármore dum Portugal profundo do qual os políticos fazem com que a capital só extraia e não distribua.
Vejo que, a reboque dum poeta que traduzi, com estima, venho a Lisboa falar de poesia e não me apetece.
Apetece-me dizer a todos estes homens e mulheres que a cultura só tem capitais porque o dinheiro ou o poder de uns quantos assim o decide.
Logo voltarei para casa. Apanharei o barco e conduzirei para casa, para o outro lado da fronteira, mas estive na capital, estive em Portugal, mesmo que só me identifique com a sua paisagem.
terça-feira, abril 09, 2019
Montijo, 9/IV/2019
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