Na comunicação analógica, temos em geral um destinatário concreto, um interlocutor pessoal. A comunicação digital, pelo contrário, propicia uma comunicação expansiva e despersonalizada que não necessita de interlocutor pessoal, nem de olhar, nem de voz. Por exemplo, enviamos constantemente mensagens pelo Twitter. Mas não são dirigidas a uma pessoa concreta. Não se referem a ninguém em concreto. Os meios sociais não promovem forçosamente a cultura da discussão. São com frequência manejados pelas paixões. As shitstorms (1) ou os “linchamentos digitais” constituem uma avalancha descontrolada de paixões que não configuram uma esfera pública.
Obtenho informação da rede, sem que tenha para isso de me dirigir pessoalmente seja a que interlocutor for. Não tenho de me deslocar ao espaço público para obter informações ou produtos. Faço, antes, com que a informação e os produtos venham até mim. A comunicação digital interconecta-me, mas ao mesmo tempo que me isola. Destrói a distância, mas a falta de distância não gera qualquer proximidade pessoal.
in Byung-Chul Han, A Expulsão do Outro, Lisboa, Relógio D’Água, 2018, p. 91
(1) Literalmente: “tempestade de merda”. O termo evoca as expressões de indignação, insultos, grosserias, difamações, etc., que, por exemplo, proliferam nas caixas de comentário dos media e nas redes sociais.
Byung-Chul Han |
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