Viagem até Estepona, com paragem num pequeno «pueblo» de Córdoba, por questões de trabalho n'aCourela.
Este Sul não me atrai. Não o Sul de uma Andalucía vasta e de sotaque tão encantador, como o do jovem que foi buscar garrafas milagrosas ao estabelecimento do nosso amigo Curro.
O Curro, antes de se dedicar à transformação de aloe vera, trazia mármore português para as construções andaluzas, para a febre imobiliária de Marbella, até que os peixes gordos engoliram os cardumes de minúsculos carapaus que se armaram em artistas com falsos fachos de notas no bolso. O tique de parecer ter dinheiro não desaparece com o tempo, muda apenas o peso da carteira.
Este é o Sul que não me atrai. Antes era sazonal, enchia no Verão, porém, agora, é este pousio constante de gente como uns gaiatos alemães com as colunas a bobarem a sua música com quem não a quer ouvir.
Digo para a Elsa:
- Estou a ficar velho. Não suporto obrigarem-me a mamar com música no espaço público.
E ao lado das colunas vibram latas de cerveja e vamos vendo como se embebedam.
Lembro-me: tinha vergonha de me embebedar em frente de adultos.
Penso, mas não digo à Elsa: estou a transformar-me num Velho do Restelo.
Não lho repito porque a vejo tão feliz junto ao mar, tão jovem como aquele Abril há quase vinte anos.
Eu ouvia Ramstein no carro, em altos berros, mas só massacrava os meus tímpanos (ou os dela, de vez em quando). O Sul era de tenda e parque de campismo.
Hoje estou a escrever à beira de uma piscina e até tenho possibilidades de beber umas cervejinhas numa esplanada. No entanto, sinto-me muitíssimo mais pobre do que há vinte anos. Consola-me o sotaque andaluz do jovem e as histórias de vida do Curro.
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