Há muito que não voltava aos “Diários” de Miguel Torga e os
lia a salto de moita, parando-me em muitas das suas entradas. Hoje, como que
de volta a um lugar onde me posso sentar descansado, não consegui desapegar-me destas suas palavras:
“(...)Mas a minha fraqueza maior é não poder desprezar
ninguém, mesmo os próprios inimigos. São meus semelhantes, apesar de tudo, e eu
não consigo descrer no homem, seja ele como for. Em vez de os esquecer,
trago-os no pensamento. Sofro por eles. A minha grande alegria é admirar os
outros, e procuro encontrar em cada um as linhas positivas do seu caminho.
Afinal somos todos elos de uma grande corrente, e é pelos ferrugentos que ela
pode quebrar. Aflijo-me, solidário com a sua humanidade, que gostava de ver
mais generosa, sem reparar que o tempo desaparece, alheio às razões que impedem
a semente de germinar.”. (in “Diário III”)
Tinha 39 anos. Tenho 39 anos. Aflijo-me.
Miguel Torga |
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