Delitos de uma infância
As imagens não me são tão nítidas. Hoje do topo dos meus 40 anos, creio que olhar por trás dos olhos daquela criança que fui, posso ser traída e induzida ao erro. Mas sempre que revisito aquele lugar, sim, sempre retorno lá, as lembranças surgem. Brotam como néctar pra'uma abelha. Os gostos, os aromas, vêm à mente instantaneamente. A casa era de uma tinta amarelada, encardida, descascada. O seu interior também não contava com muito luxo, era o lugar propício para a imaginação fértil das crianças que ali se encontravam impreterivelmente aos fins de semana. Os cômodos eram grandes, os móveis eram poucos. E os que tinham, eram gastos, surrados. Localizada aos fundos do quintal. Naqueles tempos costumávamos ter quintais enormes, com grandes espaços reservados aos canteiros de terra, como aqueles que eu encontrava nessa casa. A casa da minha infância, era o cenário perfeito! Atrás dela havia ainda, mais terra; um grande terreiro seguido de um galinheiro. Sim, também costumávamos ter galinhas e outros animais caseiros, sejam eles pra consumo ou companheirismo nas poucas horas destinadas a solidão. Na frente da casa, na lateral esquerda, colados ao muro limítrofe com o vizinho, havia um pé de romã, uma roseira e várias outras plantinhas medicinais. Muitos chás de poejo e hortelã tomavámos a fim de curar gripes e outras maledicências infantis. Ali também ficava o único espaço revestido, e era de uma lajota barata qualquer. Aliás tudo ali, era muito simples, coisas que demandavam poucos recursos. Caras somente, as coisas que não se podiam comprar, talvez nem se podiam apalpar. Alcançáveis somente através da imaginação e criatividade daquelas crianças, na maioria consanguíneas. Criavámos mundos inabitáveis por qualquer um que não soubesse sonhar. Imaginávamos os mais diversos personagens, que na maioria das vezes utilizavam fantasias que desfaziam-se com um bom banho quente no final do dia.Tinha dias que devastávamos florestas. Em outros navegávamos os sete mares. Éramos bruxas e fadas; bandidos e mocinhos num só dia. Roubavámos amoras e goiabas da casa vizinha, ou afundávamos o dedo no bolo posto pra esfriar... Confesso. Eu cometi aqueles delitos.
Celeste
As imagens não me são tão nítidas. Hoje do topo dos meus 40 anos, creio que olhar por trás dos olhos daquela criança que fui, posso ser traída e induzida ao erro. Mas sempre que revisito aquele lugar, sim, sempre retorno lá, as lembranças surgem. Brotam como néctar pra'uma abelha. Os gostos, os aromas, vêm à mente instantaneamente. A casa era de uma tinta amarelada, encardida, descascada. O seu interior também não contava com muito luxo, era o lugar propício para a imaginação fértil das crianças que ali se encontravam impreterivelmente aos fins de semana. Os cômodos eram grandes, os móveis eram poucos. E os que tinham, eram gastos, surrados. Localizada aos fundos do quintal. Naqueles tempos costumávamos ter quintais enormes, com grandes espaços reservados aos canteiros de terra, como aqueles que eu encontrava nessa casa. A casa da minha infância, era o cenário perfeito! Atrás dela havia ainda, mais terra; um grande terreiro seguido de um galinheiro. Sim, também costumávamos ter galinhas e outros animais caseiros, sejam eles pra consumo ou companheirismo nas poucas horas destinadas a solidão. Na frente da casa, na lateral esquerda, colados ao muro limítrofe com o vizinho, havia um pé de romã, uma roseira e várias outras plantinhas medicinais. Muitos chás de poejo e hortelã tomavámos a fim de curar gripes e outras maledicências infantis. Ali também ficava o único espaço revestido, e era de uma lajota barata qualquer. Aliás tudo ali, era muito simples, coisas que demandavam poucos recursos. Caras somente, as coisas que não se podiam comprar, talvez nem se podiam apalpar. Alcançáveis somente através da imaginação e criatividade daquelas crianças, na maioria consanguíneas. Criavámos mundos inabitáveis por qualquer um que não soubesse sonhar. Imaginávamos os mais diversos personagens, que na maioria das vezes utilizavam fantasias que desfaziam-se com um bom banho quente no final do dia.Tinha dias que devastávamos florestas. Em outros navegávamos os sete mares. Éramos bruxas e fadas; bandidos e mocinhos num só dia. Roubavámos amoras e goiabas da casa vizinha, ou afundávamos o dedo no bolo posto pra esfriar... Confesso. Eu cometi aqueles delitos.
Celeste
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