Nasci há 41 anos. 41 que ainda se lembram bem dos 14 e de dormir uma noite inteira sem imaginar o que era uma insónia ou contrariá-las com leitura ou com escrita. No entanto, devo dizer, caso se fique a pensar que durmo muito pouco ou mal, que ultimamente o meu descanso até tem sido contínuo e reparador, com a interrupção da mijadela da chazada prazenteira antes de ir para a cama.
Faço 41 anos e este dia 2 de Maio coincide com o Dia da Mãe. Há anos que tal não acontecia e ao meu lado dorme a mãe dos meus filhos, tal como, felizmente, ainda tenho uma mãe na sua casa, a envelhecer ao lado do meu pai, enquanto se expõe (ao invés de como nos educou) nos murais do Facebook. Custa-me ver como o ego se apoderou do mundo virtual da mulher que me trouxe ao mundo, que me possibilitou ser quem sou, que me cuidou, vestiu e acarinhou, mas acabo sempre por agradecer essa faceta de exposição embriagada de likes da minha mãe pelo simples facto de, enquanto o fizer, significar que a tenho cá.
Quanto à mulher que é mãe dos meus filhos, vamos ter outro. É a primeira vez que o escrevo e é outro menino, outro "pilas" para se juntar, dez anos e seis anos depois, respectivamente, ao S. e ao X. Já o sentimos muito presente nas nossas vidas e, desde a barriga da Elsa, reivindica a sua presença na nossa família que, aos olhos da legislação, será numerosa.
Como quase tudo nestes quarenta e um anos (escrevo-os por extenso de propósito pois parece-me um número sério), nunca o imaginei. Ainda há pouco tempo recordei a alguém que pensava que eu era um tipo imaginativo, criativo, com propensão para criar histórias, que não tenho grande imaginação, que criar só agora a horta, as árvores e as galinhas da nossa quinta, e geralmente se se me oferece um verso, o poema sai com o esforço do obreiro e, se há criação, deriva da observação do que é ser-se humano por estes dias em que me calhou viver.
Até tenho vivido. Bem, a maior parte do tempo. Mal também, algumas delas por suspeitar se mereceria o bem que colhia, essa estupidez dos idos 20 anos. Tenho invejado pouco e fujo deste sentimento, como fujo da saudade, com medo de dar de caras com o pior de mim.
Ainda tenho sonhos nos resquícios da pouca ambição que albergo. Uma ou outra viagem, um ou outro livro, alguma oportunidade de valorização laboral e pessoal, mas pouca coisa comparada com o desejo de poder acompanhar esta prole que me lembra todos os dias dos meus pés de barro.
Hoje pude somar mais um ano à minha vida. A gratidão é predominante à certeza da incerteza latente desde tenra idade. Esta tem sido a minha vida, este tem sido o motivo pelo qual decidi escrever. O que é que se há-de fazer? Ouço outra voz, mais alegre e segura de si mesma: "vivirla y escribirla, ¡hombre!"
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